O próximo Domingo é especial para a Igreja da Lapa por duas razões
A primeira é que vamos reconhecer formalmente e em acto de culto o pastorado do Mark Bustrum. O Mark já desempenhou funções pastorais nos Estados Unidos da América, antes de ter sido destacado para Portugal como missionário pela Southern Baptist Convention (juntamente com a sua esposa, Hannah, e as três filhas deles). De há uns anos para cá, tornou-se um conselheiro constante dos presbíteros da Igreja da Lapa, no último quadrimestre assistiu-os de perto e agora oficializamos aquilo que já tem sido uma realidade para a igreja. À luz da Palavra de Deus e confirmando na conduta do Mark, afirmaremos publicamente que aceitamos e nos submetemos à sua autoridade pastoral sustentada biblicamente. Passaremos a ser quatro: eu, o Ricardo Oliveira, o Filipe Sousa e o Mark Bustrum.
Infelizmente, poucas igrejas baptistas portuguesas têm mostrado o rigor bíblico de serem guiadas por uma equipa de pastores e não por um pastor só. Não me entendam mal: não estou a condenar a realidade maioritárias das igrejas baptistas portuguesas que só têm um pastor. O que estou a criticar é uma coisa diferente. Não olho para o pastorado colectivo da igreja (realidade bíblica atestável em textos como Actos 14:23, Actos 20:17, Filipenses 1:1 e Tito 1:5) como algo que a igreja deve ter se possível. Olho para o pastorado colectivo da igreja como um desejo de fidelidade à Palavra. Não levem a mal que dê o exemplo da própria Igreja da Lapa, mas ele é útil para a crítica que faço.
Quando ainda estávamos em S. Domingos de Benfica e éramos uma igreja de 12 membros, sem a capacidade de sustentar totalmente a família do seu pastor titular (que era eu), logo nessa altura chamámos um presbítero para com ele fazer equipa pastoral ou presbitério, se preferirem (o Ricardo Oliveira). Reconheço que houve imaturidades na maneira como o fizemos. Mas o principal é que estávamos convencidos pela Bíblia de que de outra maneira não poderia ser (e a pluralidade de pastores não nega que um deles possa destacar-se, como o que preside com “honorários dobrados” referido em 1 Timóteo 5:17). Uma igreja vê-se não pelo que consegue mas pelo que crê. Se crer a sério, vai agir em conformidade mesmo quando ainda não tem a capacidade de resolver todos os problemas.
Uma das experiências que me tocou no início da nossa igreja foi a decisão que tomou de sustentar totalmente a família do pastor titular mesmo quando ainda não o conseguia. Num ano decidiu, no ano seguinte cumpriu. Cumpriu porque se creu. A ordem não é cumprir primeiro e crer a seguir. Acredito que muitas igrejas baptistas portuguesas não seguem certos padrões bíblicos porque fazem-nos depender das suas capacidades actuais. Acontece que a igreja é uma instituição que não depende das suas capacidade actuais, mas das capacidades que são dadas por Deus mediante a fé. Logo, a minha crítica à ausência de presbitérios (equipas de pastores) nas igrejas baptistas portuguesas tem a ver com o medo de crer no que a Palavra diz e agir em conformidade. O que é que pode acontecer nas igrejas baptistas portuguesas se começarmos a acreditar que aquilo que a Bíblia diz é mesmo possível? O problema baptista português talvez não seja não ler a Bíblia - mas agir em conformidade com o que ela diz. E até o medo das confusões suscitadas por “muitos galos no poleiro” só confirma que se está a pensar sem fé. Para mim é mais difícil em vários contextos responder a uma equipa de pastores do que agir independentemente. Mas faço-o porque a Palavra me manda fazê-lo. Isto não é acerca de mim mas acerca do evangelho*.
O segundo motivo porque o próximo Domingo é especial para a Igreja da Lapa é que vai ser a primeira vez que vamos experimentar fazer um serviço de culto em inglês.
Existem experiências de serviços de culto protestantes em inglês na cidade de Lisboa. Mas parecem-nos ainda demasiado poucas para uma cidade que é uma capital europeia. Na Igreja da Lapa temos sentido isso porque raro é o culto onde não temos falantes de inglês, para quem traduzimos o sermão. Tendo em conta que o inglês é cada vez mais o latim deste Império Romano que é a globalização, não ter mais cultos em inglês em Lisboa é assumir que não Deus não pode salvar estrangeiros em Lisboa. Tu acreditas nisto? Tu achas que Deus não quer salvar estrangeiros em Lisboa? Eu e a Igreja da Lapa achamos o contrário e, com muita humildade mas com a coragem possível, vamos começar a pregar a Palavra em inglês. Ainda por cima, Lisboa é uma cidade tão bonita para a pessoa salvar a sua alma.
Há muito tempo Deus teve a ideia de fintar o orgulho dos homens despistando-os com idiomas diferentes. A Torre de Babel lembra que a vaidade será sempre uma obra embargada. Mas há um pouco menos de tempo, Deus teve a ideia de começar a resolver o assunto, através do Espírito Santo derramado nos cristãos. As línguas ainda são diferentes, mas há uma gramática divina a conquistar-nos gradualmente para um mundo novo. Topem a ironia: vamos começar a falar numa língua estrangeira numa igreja portuguesa porque Deus está a dar-nos uma comunicação comum através de uma igreja que é universal. Juntem-se a nós!
* A verdade é que a maioria das igrejas baptistas portuguesas não conheceu este modelo de pastorado colectivo a partir dos missionários estrangeiros que as impulsionaram e, por outro lado, não desenvolveu eclesiologicamente o assunto (ficando por defeito a ideia de que uma igreja baptista tem apenas um pastor). Volto a pedir que não entendam mal a minha crítica: os pastores que me antecederam e que assumiram sozinhos o pastorado esforçaram-se o que provavelmente nunca me esforçarei. Trabalharam com o que lhes foi dado e com o que lhes foi dado fizeram autênticos milagres. Não quero armar-me em esperto com os luxos que hoje me são dados. O meu objectivo é apenas o de colocar a questão nestes termos: não foi o muito dentro do possível que se fez ontem que deve impedir-nos hoje de desejar aquilo que pode ser biblicamente mais claro do que no passado foi. Ou seja: os pastores antigos deram muito; por que não desejam mais os pastores de agora?