Ponto de situação na questão sobre a tradução da Bíblia feita por Frederico Lourenço
1. Não é uma maravilha estarmos a discutir por causa de uma língua morta? É sinal de que a ideia cristã da ressurreição tem um poder material real. Belo Agosto de 2017, este, em que andamos às voltas à custa do grego!
2. Geralmente quando o título de um texto diz "Parte II" é porque provavelmente houve uma "Parte I" antes que disse algumas coisas que podem ser úteis para a melhor compreensão. O contexto é importante para o texto.
3. É significativo que o Frederico Lourenço tenha decidido responder. É generoso da sua parte.
4. Sendo generoso da parte do Frederico Lourenço que tenha decidido responder, registo com alguma surpresa que ele não dê nomes às pessoas que de uma forma ou outra decidiu acudir. Talvez seja da minha falta de autoestima, mas fico com a ideia de que esta ausência de nomeação funciona mantendo uma clivagem entre o "Professor" e outros para os quais o uso dos nomes não se justifica. Tendo em conta que o Frederico Lourenço termina a sua resposta exemplificando o retorno académico internacional que o seu nome adquire, será que tudo se resolve gritando para a caverna para ver quem tem maior eco?
5. Não foi feito um ataque ao Frederico Lourenço. É certo que algumas das conclusões tiradas foram duras. Mas, volto a recordar, há uma Parte I que usa um português bem claro, quanto ao valor que atribuímos à sua tradução. O que houve foi uma crítica baseada na apresentação de exemplos que, cremos, demonstram um momento particularmente pobre da obra do Frederico Lourenço (que, curiosamente, permanecem por refutar). Criticar não é atacar. Regressem ao ponto 2.
6. A questão do especialismo é todo um debate para o qual agora não contribuo. Em termos absolutos e apenas para dar uma ideia acerca de onde me situo nesta questão, talvez acredite mais em trabalho do que em especialismo - chamem-lhe ética protestante, se quiserem. Para mim, o que é fantástico no Frederico Lourenço é mais o seu trabalho do que o seu suposto especialismo (um conceito terrivelmente moderno para nós, que andamos metidos a discutir os clássicos). Argumentos de especialismo parecem-me insuficientes sempre que no trabalho concreto se encontram erros que podem e devem ser discutidos. Foi o caso aqui. A mim pouco me interessa debater ou questionar o estatuto do "Professor" - nessa bicicleta não tenho pernas para pedalar, acreditem. Quando colocámos a "competência de especialista" do Frederico Lourenço em causa foi para que ele nos desse mais e melhor do que fez naquele exemplo de tradução do texto bíblico. De resto, não nos passa pela cabeça tocar na sua
"plena convicção de ser internacionalmente considerado um helenista competente na área da Linguística Grega por outros helenistas que publicam nas imprensas universitárias de Harvard, Oxford e Cambridge". Somos a favor da propriedade privada.
7. Recordo que haverá uma Parte III e final, que foi escrita antes, quando redigi todo este texto há já algumas semanas. Termino colando aqui a resposta do Frederico Lourenço e a resposta posterior do Tiago Nunes Oliveira, que era fantástico se pudesse ser refutado nos argumentos que deu, independentemente do facto de viver
"do mundo fechado do protestantismo baptista" e do infortúnio de ser meu cunhado.
Resposta do Frederico Lourenço:
Pastores e helenistas
Como já tive ocasião de dizer várias vezes, num mundo ideal todos nós leríamos o Antigo Testamento em hebraico e o Novo Testamento em grego – e assim resolvia-se da melhor forma a problemática levantada pela tradução da Bíblia. Não estamos, infelizmente, nesse mundo ideal. Assim, quem traduz a Bíblia tem de ter a consciência de estar a fazer algo em prol dos outros; no meu caso muito concreto, o que desejo proporcionar às pessoas que lêem a minha tradução do Novo Testamento é a experiência, tão aproximada quanto possível em português, do deslumbramento de lermos o texto na sua língua original: grego.
Logo desde a publicação do 1º volume da minha tradução, vieram críticas previsíveis dos quadrantes que estavam habituados, há séculos imemoriais, a exercer a sua hegemonia teológica sobre o texto da Bíblia e a ter, incontestado, o privilégio de tradução da mesma. Os católicos não gostaram que eu lembrasse que a palavra que a Vulgata católica traduziu por "peccatum" significa em grego "erro". Os protestantes ficaram desgostosos por alguém vir chamar a atenção para o facto de, em tantas das suas ocorrências no Novo Testamento, "espírito santo" não surgir precedido de artigo. No entanto, não são realidades que eu inventei. São realidades que, simplesmente, existem. Qual é o problema de o público de língua portuguesa tomar consciência delas?
Uma das formas de me atacar tem sido a afirmação (que tanto católicos como protestantes têm feito) de que eu estou arrogantemente convencido da superioridade do meu trabalho. Essa é, de todas as ideias que têm sido aventadas, a mais errada de todas, já que nas minhas intervenções públicas (e quem me ouviu recentemente em São Paulo, em Campinas, no Rio de Janeiro e em Paraty é testemunha disso) tenho vincado sempre a forma como eu próprio vejo o meu projecto de tradução da Bíblia: vejo-o como tentativa necessariamente muito imperfeita (nem outra coisa seria possível!) de propor um novo olhar sobre a Bíblia (na esperança de que outros, desafiados pelo meu exemplo, venham agora fazer mais e melhor). Trata-se de um olhar que tem faltado clamorosamente em Portugal e também (segundo fui informado) no Brasil: o olhar crítico-histórico.
No que consiste este olhar? Em separar, antes de mais, toda a construção posterior, que é a interpretação teológica cristã, daquilo que é a materialidade objectiva dos textos que integram a Bíblia. Eu respeito profundamente a leitura que as igrejas protestantes têm feito da Bíblia nestes primeiros 500 anos da existência do protestantismo, mas enquanto linguista e historiador não é relevante para o meu estudo do texto de Paulo ou dos evangelhos aquilo que Lutero ou Calvino sobre eles escreveram 1500 anos depois de Paulo e os evangelistas terem escrito.
O estudo linguístico e histórico propõe somente, livre desse desenvolvimento posterior chamado "teologia", entender as realidades históricas atinentes aos textos da Bíblia: quando terão sido escritos estes textos? Quem os terá escrito? Que relação histórico-objectiva (e não teológica) estabelecem entre si? Que cristianismo está pressuposto nestes textos (mesmo que seja diferente daquilo a que chamamos cristianismo 2000 anos depois)?
Talvez a maior diferença entre a leitura teológica e a leitura crítico-histórica seja, no caso da leitura teológica, a crença de que todos os textos da Bíblia dizem, no fundo, a mesma coisa; e, no caso da leitura crítico-histórica, a constatação de que não é isso que se nos depara se nos ativermos à materialidade objectiva dos textos. Para o teólogo, não há contradição entre os evangelhos; não há contradição entre a Carta aos Romanos de Paulo e a Carta de Tiago. O historiador não se sente obrigado a atribuir a todos os autores do NT essa unanimidade artificial. No caso de Paulo e de Tiago, tão artificial, no fundo, que Lutero, pai do protestantismo, ainda pensou na hipótese de excluir a Carta de Tiago do cânone do NT. Justamente por, em rigor, não ser consentânea com Paulo na questão de "obras" e "fé".
Para o historiador, é perfeitamente natural que Paulo e Tiago tenham pensado cada um com a sua própria cabeça. É que a realidade indesmentível é esta: ambos escreveram na ignorância de que, um dia, os seus textos fariam parte de uma colectânea chamada Novo Testamento. Dar um sentido unitário a esses 27 textos, todos escritos antes da sua reunião num cânone aceite pela Igreja, é tarefa dos teólogos. Estudar esses textos na sua materialidade linguístico-histórica, livre de retroprojecções teológicas, é tarefa de linguistas e de historiadores. Cada metodologia tem o seu lugar.
Outra diferença fundamental entre a abordagem de linguistas e a de teólogos é que, tradicionalmente, a leitura teológica católica se baseia numa tradução do Novo Testamento feita mais de 300 anos depois da escrita dos textos que o integram; ao passo que as leituras teológicas protestantes tomam tantas vezes por base as primeiras grandes traduções vernáculas feitas em ambiente protestante (Lutero, King James Bible, Ferreira de Almeida).
Isto tem várias implicações. Por exemplo: quando eu leio a Bíblia no latim da Vulgata, estou a ler o texto numa língua que não tem artigo definido. Para quem não saiba: o latim não tem artigo definido; mas o grego tem. Isto implica, simplesmente, que "Espírito Santo" nunca é "o Espírito Santo" na Vulgata, porque não existe em latim palavra equivalente a "o". As primeiras traduções em toda a Europa foram feitas por pessoas que tinham sido educadas a ler a Vulgata (desde logo o próprio Lutero!). Ao começarem a repensar o texto, tiveram de o fazer em línguas que tinham todas o artigo definido. A total ausência do artigo definido em latim acabou por redundar na sua omnipresença nalgumas traduções.
Assim, quando os tradutores da Bíblia de King James (1611), tida como teologicamente incontestável em ambiente protestante, traduziram Lucas 1:35, traduziram do seguinte modo: “THE Holy Ghost shall come upon thee, and THE power of THE Highest shall overshadow thee; therefore also that Holy thing which shall be born of thee shall be called THE Son of God”.
Repare-se nos artigos definidos que coloquei em maiúsculas. Nenhum deles está presente no texto grego, que não nos fala aqui em “o Espírito Santo”, nem em “o Filho de Deus”, visto que os artigos definidos estão ausentes da frase. É claro que, noutras passagens dos Evangelhos, lemos em grego “o Espírito Santo” e “o Filho de Deus”; mas nesta passagem não temos, no texto grego, os artigos definidos.
Qual é o problema de uma tradução como a da Bíblia de King James? É que transmite a quem não tem possibilidade de consultar o texto grego uma ideia errada daquilo que está, de facto, no texto. É indiferente a presença ou não do artigo definido? Teologicamente podemos dar como adquirido que não há diferença entre “o Espírito Santo” e “um Espírito Santo”? Não me compete a mim, como tradutor, partir desse princípio; mas apenas dar a ler o que está no texto. Idealmente, devíamos traduzir para português a passagem acima citada do seguinte modo: “Espírito Santo virá sobre ti e poder de
altíssimo te sombreará. Por isso, também o concebido <é> santo e chamar-se-á filho de Deus”.
Convenhamos que “Espírito Santo virá sobre ti” não é muito natural em português, já que para nós é natural “o espírito” ou “um espírito”. Por isso, neste contexto, já que não seria correcto escrever “o Espírito Santo” e fica estranho escrever “Espírito Santo” sem qualquer artigo, a opção preferível será “um espírito santo”.
No entanto, é preciso dizer que este dilema do que funciona ou não com/sem artigo definido levanta-se constantemente na tradução para português da Bíblia, desde logo numa palavra que surge muitas vezes sem artigo em grego, mas que em português fica estranha sem artigo. Na resposta de Maria ao anjo, ela diz em grego “eis a escrava DE Senhor” – e não “eis a escrava DO Senhor”. Em latim – língua que não tem artigo definido ou indefinido – estas frases ficam sempre bem: “ecce ancilla Domini”. Ao traduzirmos a frase a partir do latim sem conhecimento da frase grega, podemos subentender ambos os artigos: “eis a escrava do Senhor”; ou podíamos optar por “eis uma escrava do Senhor”.
Mas o texto grego é que tem de funcionar como diapasão. E o texto grego diz-nos claramente que não se trata aqui de “uma escrava”; mas sim de “a escrava” de
Senhor. Senhor esse que é, obviamente, Deus.
Em resumo: com a minha tradução do Novo Testamento pretendo também confrontar as pessoas com o facto de as fórmulas tradicionais que temos nas nossas cabeças, depois de as termos ouvido uma vida inteira traduzidas com base noutros critérios, não corresponderem muitas vezes àquilo que está, de facto, no texto na sua língua original. Todos conhecemos “bem-aventurados os pobres de espírito”; ou “fazei isto em memória de mim”; ou “o Espírito Santo virá sobre ti”. Mas não é isso que está realmente no texto do Novo Testamento. Já para não referir que todos rezamos na missa um Pai Nosso que não reproduz as palavras que Jesus indicou que rezássemos.
É preciso voltar a estudar e compreender o texto do Novo Testamento na sua língua original: o grego. O cristianismo do século XXI deve estar apto a aceitar que o rigor linguístico não é inimigo da teologia – muito menos da fé. Nem a Bíblia se torna menos santa por lermos nela o que realmente lá está escrito.
PS: surpreendeu-me ver a minha competência numa área em que me considero especialista (Linguística Grega) posta em causa num texto que circula na internet, escrito por um pastor baptista que aduz como testemunha da minha alegada falta de competência na referida área outro pastor baptista, seu cunhado. No universo universitário, fora do mundo fechado do protestantismo baptista, o modo como se afere a competência de alguém numa área de especialização universitária é no facto de os estudos do especialista em causa serem citados de modo corroborativo por outros especialistas independentes (isto é, pessoas que não pertencem à mesma igreja, nem à mesma família - muito menos à mesma universidade; idealmente, não pertenceriam ao mesmo país). De forma inteiramente objectiva (e, por isso, não inventada por mim) os meus trabalhos especializados em revistas académicas sobre Linguística Grega são citados internacionalmente, de forma corroborativa, nalguns dos estudos mais importantes que têm saído nos últimos anos, livros cujas capas são as fotos que ilustram este post. Não sou arrogante nem convencido do meu próprio mérito no que se refere à tradução da Bíblia (trabalho que nunca poderia ser perfeito); mas estou plenamente convicto de ser internacionalmente considerado um helenista competente na área da Linguística Grega por outros helenistas, que não conheço pessoalmente, que publicam nas imprensas universitárias de Harvard, Oxford e Cambridge.
Resposta do Tiago Nunes Oliveira
O Tiago Cavaco publicou a segunda parte de uma leitura crítica da tradução da Bíblia de Frederico Lourenço. Entre os argumentos, o Tiago Cavaco utilizou alguns excertos de uma carta que lhe tinha escrito e que me pediu autorização para utilizar. Entre outros, o texto mereceu a reação do próprio Frederico Lourenço. Como o meu nome está implicado, gostava de deixar alguns esclarecimentos.
Em primeiro lugar, compreendo a reação de Frederico Lourenço. No entanto, admito que possa não ter sido claro no que diz respeito à razão principal da minha crítica à sua tradução da Bíblia. Não que acredite que a nossa discórdia seja uma mera falha de comunicação, mas porque desejo que seja clara. A razão pela qual considero a obra de Frederico Lourenço um fiasco é porque ela não cumpre o que o autor se propõe fazer. E a razão pela qual Frederico Lourenço não cumpre o que promete é simples: porque o que ele promete não pode ser cumprido! (Note-se; a minha avaliação é com base na proposta de Frederico Lourenço, não minha.)
Na introdução à obra, Frederico Lourenço afirma: “Acima de tudo, trata-se de dar a conhecer o texto bíblico num formato que, tanto no que toca à tradução como aos comentários, privilegia de forma não-doutrinária, não-confessional e não apologética a compreensão do texto grego. (…) sem a interferência de pressupostos religiosos, a materialidade histórico-linguística do texto. (…) explicar de forma clara e não-tendenciosa.”
Em resposta:
1- Note-se que é Frederico Lourenço que compara as várias traduções de forma qualitativa. Não apenas compara de forma objetiva os métodos, mas atribui-lhes valores qualitativos, sendo a sua tradução (em comparação com as outras): sem pressupostos, material, clara e não tendenciosa. Portanto, é justo desconfiar da aparente humildade de Frederico Lourenço quando nos diz que “[n]ão sou arrogante nem convencido do meu próprio mérito no que se refere à tradução da Bíblia (trabalho que nunca poderia ser perfeito).” Ou quando se mostra ofendido face à acusação de estar “arrogantemente convencido da superioridade do meu trabalho.” Preferia um Frederico Lourenço mais ousado.
2- Frederico Lourenço não é menos doutrinário, não-confessional ou apologético do que qualquer outro tradutor. A falácia inerente no argumento de Frederico Lourenço é pressupor que apenas os ‘religiosos’ é que têm uma doutrina ou confissão. A minha contenção é simples: não existe nenhum tradutor/interprete neutro. Frederico Lourenço coloca em oposição os “pressupostos religiosos” dos outros com a “materialidade histórico-linguística do texto.” Os ‘religiosos’ são tendenciosos, Frederico Lourenço o neutro. Uns trazem os seus pressupostos, Frederico Lourenço a ‘materialidade’. Uns trazem a sua teologia, Frederico Lourenço apenas traduz o que “realmente lá está escrito”. No entanto, a abordagem histórico-crítica não é menos confessional do que do que outras abordagens. Antes de ser um método ela é uma abordagem, com os seus pressupostos. Na realidade, porque o texto bíblico é primeiramente uma obra teológica, o método histórico-crítico falha pela raiz, porque quer fazer do texto o que ele não quer ser. O método de estudo deve apropriado à natureza do objeto de conhecimento.
3- Qualquer tradução implica interpretação. Se a tradução fosse simples aplicação de técnicas linguísticas (da qual Frederico Lourenço é exímio), não precisávamos de tradutores humanos. O tradutor humano inevitavelmente interpreta o texto. O rigor linguístico de Frederico Lourenço só serve se conjugado com outros aspetos igualmente necessários para uma boa tradução, entre eles o contexto literário (outra área onde o método histórico-crítico tem sido amplamente demolido, inclusivamente por não-‘religiosos’). A única coisa que me propus foi mostrar que existe uma opção mais plausível para a tradução de “ἐκ πνεύματος ἁγίου” do que Frederico Lourenço propõe. A minha nota é irónica: a suprema tecnicidade linguística de Frederico Lourenço é uma traição à própria língua. Ironicamente, Frederico Lourenço é mais papista do que o papa na sua dogmática linguística. E é obviamente pedante, porque acusa (na sua própria nota de rodapé) todos os outros tradutores de violarem de forma grosseira as leis mais básicas da língua grega de forma a que se pudesse ajustar às suas posições confessionais.
4- Qualquer tradução deve procurar ser fiel ao seu autor. Este princípio é válido para autores contemporâneos, como para autores clássicos. Deve-se reconhecer que a distância que nos separa dos autores clássicos dificulta a tarefa quando comparado com autores contemporâneos, mas o princípio mantém-se válido. Frederico Lourenço, ao invocar a sua não-confessionalidade, desnuda ironicamente a sua incapacidade de reconhecer o evidente: o autor bíblico é confessional. Desta maneira, a tradução deve espelhar a confessionalidade do autor. Não deixa de ser interessante, que Frederico Lourenço quer impor ao autor bíblico uma não-confessionalidade, quando a sua confessionalidade é evidente. O que quero dizer com isto? Que, sempre que possível, o não-confessional Frederico Lourenço transforma o autor confessional num autor não-confessional. Isto é verdade para os dois casos mais debatidos.
Resumindo, julgo ser inegável o valor da tradução de Frederico Lourenço. Como ele próprio observou, as suas credenciais académicas são indiscutíveis e reconhecidas. No entanto, a tradução do texto bíblico de Frederico Lourenço não é o diz ser. É muito mais e muito menos. A sua objetividade é muito menor do que aquela que reclama e é muito mais confessional do que está disposta a admitir. Este é o meu ponto principal de contenção, não as credenciais linguísticas de Frederico Lourenço.