Religião e Panque-Roque. De Tiago de Oliveira Cavaco.
terça-feira, outubro 31, 2017
Como 500 anos da Reforma não é todos os dias
Tomem (aqui) um texto sobre o assunto no Observador. "Se um português quiser entender melhor o mundo à sua volta, precisa de conhecer a Reforma Protestante. Vai entender melhor a cultura americana que lhe moldou os gostos, vai entender melhor a euforia religiosa que varre a América do Sul, África e Ásia (em números bem superiores do que o islamismo), e vai entender também melhor o seu próprio catolicismo em Portugal. A pior maneira de honrar a memória de Lutero é torná-lo mais um a dizer mais do mesmo. Quem o quiser ler sairá a ganhar, ainda que abocanhado por aquele alemão irrequieto." Agradeço ao meu cunhado Rúben Oliveira e ao meu primo Timóteo Cavaco, verdadeiros maratonistas na ingrata corrida da história religiosa em Portugal, sem os quais este texto não existiria assim. Vistam o vosso fato de Lutero e bom Halloween!
quinta-feira, outubro 26, 2017
Ê, Outono abençoado!
Ouvir
O sermão de Domingo passado, chamado "O Rei e o Reino são muito maiores do que julgamos", pode ser ouvido aqui.
quinta-feira, outubro 19, 2017
Comer bem e viver melhor
Vejam a experiência do Pedro Barroso para que a vossa fé melhore a vossa mesa.
O que é que uma igreja rezingona e calvinista
Tem a aprender com uma Hillsong? Numa hora e meia pode haver respostas.
Olhem aqui
Este Rick Rubin a dar uma lição de produção musical, a pretexto da gravação do novo disco do Lipe. Tudo graças ao Martim.
segunda-feira, outubro 16, 2017
Ouvir (e ver)
O sermão de Domingo passado, chamado "Jesus saca mais do arrependimento do que um cobrador dos impostos", pode ser ouvido (e excepcionalmente visto) aqui.
Um pouco do Fim-de-Semana Cheio na Lapa
Visto pelos olhos de quem visita (neste caso, do meu amigo Martim).
Of course
quinta-feira, outubro 05, 2017
A não perder
Ouvir
O sermão de Domingo passado, chamado "Só se ganha quando a chamada é estranha", pode ser ouvido aqui.
O Velho Arsenal
A FlorCaveira e o site brasileiro Scream & Yell têm o
privilégio de publicar hoje “O Velho Arsenal dos Lacraus”. Este disco é
uma comemoração de quase 25 anos de rock'n'roll: as dez canções vão
desde 1993 até agora, incluindo como extra a versão original do “Queluz
Está a Arder” (porque há clássicos que não são possíveis de
aperfeiçoar). A capa, inspirada num livro de motoqueiros negros de Nova
Iorque, usa uma fotografia fantástica da Catarina Limão. Podem ouvir no
site da Scream & Yell, Spotify, na Apple Music e nas plataformas
digitais do costume (em breve estará no YouTube e no Bandcamp). Aí em
baixo têm um texto explicativo de um quarto de século a pôr fogo no
pano. Espalhem o amor!
***
Se olharmos para os Lacraus de
uma maneira estreita, podemos dizer que eles começaram há dez anos
quando pela primeira vez usaram o nome para participarem na compilação
da FlorCaveira chamada “Cinco Subsídios para o Panque-Roque do Senhor”,
juntamente com os Pontos Negros, Samuel Úria & as Velhas Glórias,
Borboletas Borbulhas e Jerusalém. Desde essa ocasião voltaram a
participar noutra compilação chamada “A FlorCaveira em Frequência
Modulada” de 2007, e editaram o disco “Os Lacraus encaram o lobo” em
2011, numa edição da FlorCaveira com a Valentim de Carvalho.
Mas
acredito que a maneira certa de olhar para os Lacraus não é esta maneira
estreita. Se olharmos para os Lacraus de uma maneira larga podemos
dizer que eles começaram há vinte e cinco anos. Foi em Dezembro de 1992
que na Igreja Baptista de Queluz se juntou um grupo de quatro
adolescentes para ensaiarem três canções que deveriam apresentar no
Acampamento Baptista de Fim de Ano de 1992, em Água de Madeiros (na zona
de Leiria). Desses quatro adolescentes, três tocam neste disco dos
Lacraus que agora ouvem. É um quarto de século a fazer música juntos.
Os
Lacraus, vistos desta maneira larga, são um punhado de amigos que, sob
nomes diferentes (já lá vamos!), não desistem de tocar. O primeiro grupo
que os juntou teve uma duração curta - chamava-se Parakletos (que quer
dizer “Consolador” em grego - é uma mania evangélica a de dar nomes a
bandas a partir de termos no hebraico ou no grego) e nele estavam eu (o
Cavaco), o Tiago Ramos, o Miguel Sousa (o Guel) e o Tiago Branco. Pouco
depois, logo no início de 1993, os Tiagos começavam outra banda, à qual
se juntava o Miguel Ferreira (que tocava com os Damaged Fan Club - um
grupo com algum reconhecimento na cena do rock underground lisboeta da
altura), chamada Metanóia e que pudesse servir para fazer “música mais
pesada”. Afinal estamos a falar dos anos da vigência Nirvana, do álbum
negro dos Metallica e dos últimos estertores dos Guns'N'Roses. Os Tiagos
não queriam apenas ter uma banda evangélica em que a recepção fosse
garantida junto de outros evangélicos (como os Parakletos asseguravam) -
os Tiagos sentiam-se punks e queriam ter uma banda punk.
Também
em 1993, os Parakletos acabariam por receber mais dois músicos e, à
boleia deste acréscimo, mudar o seu nome para H.Pos (para fazer o
trocadilho com “agape”, a palavra grega para um dos tipos de amor
bíblico). Eram eles o Jorge Viegas e o João Leal, que solidificam
instrumentalmente um grupo mais talhado para os eventos do contexto
evangélico. Esta banda duraria até 1998. Entretanto, os Metanóia também
não ficaram como começaram. Em 1994 passam a ser Catacumba, com um som
mais virado para o trash metal e o hardcore (os Ratos de Porão tinham
entrado na nossa vida para mudá-la para sempre). Tinha saído o Miguel
Ferreira e entrado o Emanuel Conde e o Ricardo Oliveira. Já em 1996, em
febre ska/punk, o nome passa a ser Bible Toons - é durante esta fase que
conseguem organizar uns quantos concertos na cave da Igreja que se
tornam memoráveis e razão para marcarem a escassíssima paisagem musical
de Queluz. Como Bible Toons perdem o Emanuel Conde mas ganham o Carlos
Rodrigues e o Miguel Sousa (que também tinha passado a querer “música
mais pesada”).
Já em 1998, e com os músicos na Faculdade, sentem
pressão de um nome intelectualmente mais sólido: com muita inspiração
vinda da audição atenta dos Heróis do Mar (uma banda maldita durante a
década de 90) passam a chamar-se A Instituição e o som torna-se mais
próximo de um punk mais maniento e menos adolescente. É desta época os
concursos musicais (com um primeiro lugar no Festival de Música Moderna
de Corroios de 1998), mas também será pouco depois que o combustível que
turbinava o sonho da banda da adolescência chega ao fim. Num ensaio
inglório de 1999, A Instituição termina tentando ensaiar uma canção que
apropriadamente se chamava: “A Instituição é uma banda sem futuro” (o
cinismo pós-moderno tinha substituído o panfletarismo religioso).
Mas
ainda no finalzinho de 1999, a paragem não conseguiu ser duradoira. Eu
junto-me ao Guel e cravamos o adolescente de 14 anos, Filipe Sousa
(primo do Guel e do Ricardo Oliveira) e o João Eleutério para fazermos
Guel, Guillul & o Comboio Fantasma. A primeira canção será
precisamente a canção que tinha tentado reanimar A Instituição, agora
com um novo nome e letra: “Queluz Está A Arder”. Esse seria também o
título do primeiro disco, gravado logo no Dezembro próximo. E é desta
inesperada ressurreição que vem um padrão hoje tão próprio da
FlorCaveira (editora que começaríamos precisamente nesse ano de 1999):
às vezes é preciso uma aparente derrota para as coisas voltarem ao sítio
certo.
O disco “Queluz Está A Arder” dá um tom fundamental a tudo
o que seria o futuro da FlorCaveira. Não tanto pelo som mas mais pela
atitude: falar muito a sério ou falar muito a brincar; gravar com o que
se tem à mão; e crer sem reservas que o que estamos a fazer é
definitivamente mais urgente de ser feito do que aquilo que os outros
estão a fazer (isto não significa que não gostamos do que os outros
fazem, simplesmente não nos parece o que mais precisa de ser feito). A
editora torna-se tanto uma família como uma ideologia. Estão nela
aqueles que cresceram juntos no sentido de a criar, como poderão vir a
estar juntos nela outros que assumam os seus dogmas. E seria isso que
viria a acontecer, nos inesperados e loucos anos de 2007, 2008, 2009 e
2010 quando, à boleia de um talento mais depurado dos Pontos Negros (a
banda adulta do adolescente Lipe do Comboio Fantasma), a crítica
nacional descobriu a FlorCaveira e dela fez uma improvável sensação.
Antes
de dar o salto para 2017, vale a pena dizer que dez anos antes os
Lacraus tinham sido a banda criada para tentar canalizar os espíritos do
Comboio Fantasma, parados desde 2003. Os Lacraus tiveram mil e uma
formações. Foram eu e o Guel sozinhos (numa espécie de Black Keys);
foram eu, o Guel e o Ricardo; foram por vezes eu, o Guel, o Ricardo e o
Filipe; e, como formação mais clássica, foram eu, o Guel, o Ricardo e o
Ben (que substituiu o Lipe, quando ele se quis dedicar aos Pontos) - foi
destes quatro que saiu em 2011 o disco “Os Lacraus encaram o lobo”.
Em
2017 os Lacraus são menos as suas formações concretas e mais aquilo
que, no meio delas, teima em persistir: um grupo de família e amigos.
Neste disco que agora escutam, os Lacraus são eu, o Guel, o Ricardo, o
Lipe, o Tiago Ramos e o João Eleutério. A coisa bonita é que nestes seis
tipos está reunida quase a totalidade d'A Instituição/Bible Toons
(falta o Carlos Rodrigues) e está totalmente reunido o agrupamento
conhecido por Guel, Guillul & o Comboio Fantasma. Foi também esse
embalo de nos vermos novamente todos juntos que contribuiu para que
tirássemos um tempo para irmos às cassetes e aos velhos CDs escolher uns
quantos números do passado que mereciam ser regravados com a ternura
dos (quase) quarenta. Quando já se toca há quase um quarto de século, já
não é preciso arranjar grandes pretextos - é fazer e pronto.
Este
disco reúne canções deste período de quase 25 anos de música. E isso
diverte-nos. Geralmente os discos de 25 anos de carreira são discos de
êxitos conhecidos por toda a gente. Connosco isso é impossível porque
sempre andámos nos subterrâneos musicais. Temos tido aqui e ali um ou
outro vislumbre daquilo que é a música recebida por massas (mais o Lipe
com os Pontos Negros), mas, passado este tempo, não estamos assim tão
distantes do lugar onde começámos. E isso não nos sabe mal. Se soubesse,
não teríamos energia para regressar a canções antigas.
Tentámos ir buscar um pouco de tudo e por isso diz-nos muito ter, por exemplo:
-
uma gravação do “Joãozinho” (uma canção que imita em modo
teen-evangélico os Nirvana imitando os Vaselines), que fez parte da
primeira maquete dos Metanóia, em 1993. Caramba, nada se perde - tudo se
transforma!
- Por outro lado, o “Não sei” foi gravada aqui numa versão menos pop-punk nineties como era a original, de 1997.
-
A partir daí nota-se como o Comboio Fantasma apurou os exageros para
uma fórmula que, estando ainda de pés no punk, já se sentia confortável
no good old rock'n'roll. O “Eram três”, de 2000, foi provavelmente a
primeira canção mais clássica que gravámos, que tanto dava Velvet
Underground como Tom Petty.
- Depois, a canção “Há sangue na tua
t-shirt” já é da pena dos Lacraus, no período de início do uso do nome,
por volta de 2005 (e incluída na tal mítica compilação “Cinco Subsídios
para o Panque-Roque do Senhor”).
- Seguem-se depois três canções
que, tendo integrados discos meus a solo, mereciam um tratamento mais
springsteeniano: a “Da Fuga para a Mágoa”, que tinha sido um outtake do
“V”, agora rebaptizada para “Só os anjos dançam contigo em segredo”; a
“Os rapazes do Pouco Fazem Fogo”, originalmente do disco “Amamos
Duvall”; e “Pousaste os Auscultadores”, do primeiro disco da Xungaria no
Céu, originalmente cantada pelo Alex D'Alva Teixeira.
- Aproveitámos para juntar uma canção nova, “Sacode o Pó das Tuas Asas”, já que Bruce tinha sido invocado.
-
Como extra, incluímos o nosso clássico dos clássicos, impossível de ser
regravado e, por isso, na sua imperfeita versão original perfeita:
“Queluz Está a Arder”.
Como título deste disco indica, este é um
velho arsenal. Não deixa de ser curioso que os nossos parceiros de
guerra sejam a revista Scream & Yell. Não quero teorizar muito sobre
esta mudança de mira para o Brasil - aconteceu assim porque tinha de
acontecer. Mas gostava de pensar que, por barulhentas que sejam as
nossas armas, ainda conseguem fazer algum fogo. São vinte cinco anos de
explosões. Deus é bom e, por causa de Cristo, o Espírito ainda queima. See ya in the pit.