sexta-feira, janeiro 19, 2018

ARAME FARPADO NO PARAÍSO
TEXTO IX - REGRESSO A TI

Onde se afirma genericamente a miséria moral das novelas brasileiras mas se reconhece que estão cheias de grandes histórias e personagens.

Em comparação com Fortaleza, Belo Horizonte quase lembra a Europa. O centro da cidade tinha aquele tipo de irradiar-do-centro-para-a-periferia que não detectei facilmente no Nordeste. Fiz uma escala em Brasília e fiquei com pena de não parar lá. Alguns dos meus primeiros amigos brasileiros que pensaram em que visitasse o Brasil são de Brasília. O Josaías, que agora estuda nos Estados Unidos e o Pr. Emílio Garofalo Neto (diz-se Garófalo) são homens que gostava de abraçar (no caso do Josaías, voltar a abraçar). A ver se para o ano dá.

No recente aeroporto de Belo Horizonte, construído para as Olimpíadas (ou seria o Mundial de Futebol?) esperava-me o Celso Mastromouro, que me acompanhou prontamente. Almoçámos bem porque recupero o apetite assim que o avião poisa. Fomos para o hotel e descansei para que ao fim da tarde repetisse as palestras que tinha apresentado em Fortaleza. O lugar delas era a Faculdade Batista de Minas Gerais que, na prática, permite que uma criança entre no jardim de infância e saia na Universidade. No contexto evangélico português não há nada parecido.

Esse é um dos problemas que os cristãos evangélicos enfrentam em Portugal. Não há ensino privado religioso acessível aos bolsos da classe média. Aliás, mesmo que fosse para a classe mais privilegiada não haveria, na medida em que escolas cristãs evangélicas ainda são um rascunho aqui. Há aqui e ali uma tentativa, uma aventura, mas, pelo que sei, nada ainda pegou seriamente. Também é este cenário que contribui para que famílias como a nossa, ainda que não colocassem totalmente de parte a hipótese de colocar os filhos em boas escolas católicas mas não o façam por falta de recursos (as escolas católicas em Portugal são para ricos - uma pequena traição da sua alardeada "opção preferencial pelos pobres"), optem pelo ensino doméstico.

Também devo dizer que, com uma vulgarização de escolas evangélicas, também ocorre um fenómeno que é uma adesão religiosa nominal dentro do próprio protestantismo. No Brasil é possível ser "batista" e ser uma treta de crente. Em Portugal, a rigor, também é, mas é mais improvável. Os batistas no Brasil são assim uma espécie de evangélicos respeitados (provavelmente como os presbiterianos) e deu para sentir que, apesar de amar a minha denominação, no Brasil ela cheira-me aqui e ali a um tipo de superficialidade que em Portugal gostamos de apontar aos católicos. Talvez seja da perda do p. Para ser sério, um baptista precisa de um p. Um p de "põe-te sério".

***

No início da primeira palestra em Belo Horizonte, o Celso teve a má ideia de perguntar quantos dos presentes tinham ouvido falar de mim. Imaginem num grupo de umas poucas centenas (200 pessoas talvez) haver seis mãos que se levantam. O que só assinalou a generosidade dos presentes. Estava a falar para pessoas que não faziam ideia acerca de quem era. De certo modo, senti-me mais livre. Podia dizer o que queria sem correr risco de desapontar ninguém. Para ilustrar um ponto qualquer da palestra, comecei a falar sobre telenovelas brasileiras. Foi com algum choque que conclui que a maior parte daqueles jovens estudantes brasileiros não partilhava da minha paixão pelo assunto.

Lembro-me que nos anos oitenta, quando um missionário brasileiro visitava as nossas igrejas evangélicas, era sempre com algum choque que via os crentes portugueses, felicíssimos da vida acorrer para eles demonstrando um convívio profundo com as telenovelas brasileiras. Nós, portugueses saloios e deslumbrados pelas glórias da tevê, julgávamos que era assim que criávamos uma linguagem comum. Horrorizados, os evangélicos brasileiros censuravam imediatamente (ou, numa versão mais polida, censuravam com a elegância que conseguiam) o mau hábito de um crente se permitir assistir àquele lixo moral. Hoje, trinta anos depois, acho que alinho com os missionários.

As telenovelas brasileiras, com todos os seus méritos de produção, são de facto um lixo moral. Mas reconheço que não consigo separar-me emocionalmente do "Bem-Amado", da "Guerra dos Sexos", da "Vereda Tropical", do "Roque Santeiro" e da Tieta", para os cinco exemplos mais fortes. Eu não seria a mesma pessoa sem estas novelas. Por isso, irmãos brasileiros: aceitem com a maior graça possível que, quando vos pregue o evangelho, acabe dando exemplos da sinistra Viúva Perpétua, ou do povo de Sucupira, ou do Luca que entrou para o Corinthians, ou do retrato que mudava de expressão, ou do brinco do Fábio Júnior que contribuiu para uns anos mais tarde eu furar a minha orelha.

Na tripla autógrafo-retrato-perguntas encontrei em Belo Horizonte o primeiro compatriota, o Tiago. O primeiro português que encontrei no Brasil! Pode parecer piroso, mas é verdade: quando estás longe de casa abraças o teu conterrâneo como se fosse da tua família. Obrigado, Tiago!

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Naqueles dias o Professor Wagno Bragança cuidou de nós e levou-nos à Igreja S. Francisco de Assis, do Oscar Niemeyer, na Pampulha. Pequena mas bonita. Assim meio comuna, com aquele tipo de namoricos manhosos que o Século XX permitiu entre catolicismo e marxismo, mas ok - também é esta flexibilidade que torna as igrejas católicas tão capazes de reflectir os tempos em que foram edificadas (o protestantismo, sendo mais austero, não se mete tanto em troquinhas com as tendências dos momentos).

Um dos pontos fortes de Belo Horizonte foi conhecer pessoalmente o Jonas Madureira. O Jonas Madureira está a acontecer! O Jonas é um jovem teólogo e pastor batista que, ao publicar o seu primeiro livro há uns meses, chamado "Inteligência Humilhada", em menos de nada tinha-o nos topes dos mais vendidos do país na área da religião. É gente finíssima. Culto, agudo, gentil - não contem com muitos Jonas a aparecer nos próximos tempos porque colheitas assim são raras. O Jonas acabou de chegar de avião e foi de propósito directo à minha palestra, para nos conhecermos pessoalmente. Tratou da parte do Q&A e fiquei desconsolado por não ter mais tempo com ele. Um gigante.


quinta-feira, janeiro 18, 2018

Ver e ouvir

Em rigor, faço discos desde 1994 (na altura, em forma de cassete). Não tenho a conta feita a todos os que já fiz. Uma parte muito considerável da minha vida é fazer discos. Para mim, é uma vontade que Deus me deu para cumprir (não estou a exagerar). Acredito mesmo no poder espiritual de fazer discos. Mas, neste caso, quero sublinhar outra coisa: desde 1999 que o João Eleutério passou a estar numa boa parte dos meus discos. Ou seja, já são quase 20 anos de trabalho conjunto. À medida que fico mais velho, valorizo mais estas coisas que são fidelidades. A fidelidade torna a nossa vida cheia de magia. Leut, isto é apenas uma pequena homenagem à medida da internet. És uma bênção de Deus. Já fizemos tanta coisa em disco... Sujeira, limpeza, ranho, lágrimas e um quanto sangue. Tu está sempre pronto para me receber - incrível! E também sou agradecido pelo Martim, por este vídeo que, sendo simples, tem muito significado para mim. Um abraço aos dois!

quarta-feira, janeiro 17, 2018

Ouvir

O sermão de Domingo passado, chamado "O que Deus diz faz os teus ouvidos tinir?", pode ser ouvido aqui.

sexta-feira, janeiro 12, 2018

Ouvir

Ter fé é também, ouvindo a palavra, saber que o mundo que Deus está a criar é habitável. Tu acreditas que podes habitar o mundo que a palavra de Deus cria para ti? Então por que não o habitas?

O sermão de Domingo passado pode ser ouvido aqui.

sexta-feira, janeiro 05, 2018

Novidades!

A Antena 3 deu-me carta branca. E para o primeiro programa lembrem-se do slogan: constituir família é a suprema rebeldia.

quinta-feira, janeiro 04, 2018

Ouvir

O sermão de Domingo passado, chamado "A espada no coração de Maria", pode ser ouvido aqui.