Lapa, 16 de Junho de 2019
Mateus 5:1-2, 7:28-29
Na hora do adeus ao Sermão do Monte, reli os cerca de 50 sermões pregados (porque outros houve do Pr. Filipe e do Pr. Mark) e seleccionei 20 excertos para sublinhar algumas das lições mais importantes.
1. DO SERMÃO 11 DE FEVEREIRO DE 2018 (em Mateus 5:1)
- Não se trata de ler o Sermão do Monte e dizer: gostava de chegar lá mas não consigo. Trata-se de lê-lo e dizer: chegar lá é quem sou. Quem define a minha capacidade de viver assim não sou eu mas o Rei Jesus. Estudar o Sermão do Monte é assumir que a minha identidade não é definida pelas minhas improbabilidades mas pelas possibilidades do Reino.
2. SERMÃO DE 4 DE MARÇO DE 2018 (em Mateus 5:3)
- A vinda de Jesus significa que alguma coisa mudou ao ponto de começar a inverter a normalidade de tudo. O Sermão do Monte está mais preocupado em anunciar um mundo novo que está em curso, principalmente desde que Jesus veio. O Sermão do Monte não está assim tão preocupado em analisar filosoficamente o mundo como o conhecemos. Por isso mesmo, não há um tom defensivo no Sermão do Monte. O Sermão do Monte põe o amanhã de Jesus no nosso agora.
3. SERMÃO DE 11 MARÇO DE 2018 (em Mateus 5:3)
- A humildade é a característica que confirma que precisamos de ser salvos por outra pessoa que não nós, que é Jesus Cristo. Um cristão pouco humilde até pode dizer que foi salvo por Jesus, mas o seu comportamento sugere que ele se salva a si próprio. O reconhecimento público é o reino desejado pelos Fariseus e por todos os que vivem de demonstrar que conseguem ser justos por si próprios. O reino desejado pelos que seguem Jesus não é o reconhecimento público mas o reconhecimento do Rei. Neste sentido, o pobre de espírito é aquele que não deseja a riqueza do reino do reconhecimento público.
4. 1 DE ABRIL DE 2018 (em Mateus 5:6)
- A justiça para nós tende a ser uma via de sentido único, em que o que interessa é como o mal de fora provoca estragos cá dentro, ao passo que a justiça de Jesus tem duas faixas de rodagem, em que este sentido existe, mas o outro também, em que o mal de dentro provoca estragos cá fora.
5. SERMÃO DE 20 DE MAIO DE 2018 (em Mateus 5:13-16)
- A humildade de ser discípulo de Jesus requer que sejamos diferentes dos outros ao ponto de beneficiarmos aqueles que podem odiar a nossa diferença. Quando somos arrogantes a pretexto da nossa fé não damos sabor e luz à vida daqueles que não partilham a fé connosco, e nem sequer a nós mesmos. Ser discípulo de Jesus não dá para ego-trips.
6. SERMÃO DE 3 DE JUNHO DE 2018 (Mateus 5:17-20)
- Como podemos ser moralmente superiores aos Fariseus? A nossa superioridade moral tem o tamanho do perdão dos nossos pecados. A nossa superioridade moral é, paradoxalmente, o reconhecimento da nossa miséria moral sem Jesus. E este paradoxo é a cura mesmo: Jesus quer que os habitantes do seu Reino sejam moralmente superiores aos Fariseus porque aquilo que garante a entrada no Reino não é a justiça com que os seus habitantes aí merecem entrar, mas a misericórdia com que o Rei Jesus aceita a entrada deles. A superioridade moral dos discípulos de Jesus tem o contorno de uma cruz, porque é na cruz que esta transacção entre a nossa culpa e a justiça de Jesus é feita. Sim, cristão: é suposto seres moralmente superior. Mas a tua superioridade moral está fundada na tua incapacidade total. Por isso, quanto mais te superiorizas moralmente, mais humilde te tornas. No Reino de Jesus cresce-se diminuindo.
7. SERMÃO DE 17 DE JUNHO DE 2018 (em Mateus 5:21-26)
- Porque Jesus é o pregador e a própria pregação, a pessoa que o segue toma a perfeição como o objectivo final de ser seu discípulo. O que Jesus propõe aos que o seguem não é aquilo que, eventualmente, eles têm legitimidade para esperar da vida. Jesus pede-lhes perfeição porque, a partir do momento em que se segue o Rei, o Reino funciona de acordo com as suas formidáveis capacidades. O que está em causa não é o que posso fazer, e talvez com alguma justificação. O que está em causa é o que Jesus pode fazer e, como isso, nos justifica para estarmos num estado de direcção à perfeição e acima dos escribas e Fariseus. Jesus pede-te o que não podes para que vivas do poder dele.
8. SERMÃO DE 15 DE JULHO DE 2018 (em Mateus 5:27-28)
- Para todos aqueles que se julgam muito cumpridores da religião, porque no exterior não quebram a lei, Jesus mete-lhes a lei lá dentro, no coração deles, para todos entendermos que, na realidade, não há lei que não quebremos. O pecado não é o que acontece quando precisas de fazer alguma coisa. O pecado é o que já existe quando não precisas de fazer nada. É radical esta conclusão, mas é a que Jesus está a dar. Há adultério propriamente dito, com duas pessoas e os seus corpos fisicamente envolvidos; mas também há adultério quando apenas dentro do coração de uma pessoa existe um desejo por esse envolvimento. O pecado é o que já existe dentro de nós mesmo quando não precisamos de concretizar um mau desejo. Há um nome bíblico para isto que é concupiscência. O coração é o verdadeiro campo de batalha, ainda antes do mundo exterior.
9. SERMÃO DE 22 DE JULHO DE 2018 (em Mateus 5:29-30)
- Muitas vezes o mais importante que vamos aprender não vem da nossa incrível capacidade racional de apreciar o bem, mas de um susto dado à nossa consciência, exemplificando algumas das piores coisas que nos podem acontecer como consequência das nossas más escolhas – ninguém aprecia este estilo porque sentimos a nossa inteligência mal-tratada. Mas é isto mesmo. Quando seguimos Jesus não temos qualquer garantia de que ele nos trata a partir do melhor que vê em nós; às vezes é mesmo o contrário. E é também partir daqui que o Sermão do Monte é pregado, em metáforas gráficas de olhos arrancados e mãos cortadas, chamando até o Inferno para o assunto.
10. SERMÃO DE 2 DE SETEMBRO DE 2018 (em Mateus 5:38-42)
- Mais importante do que a maneira como defendemos o que nos pertence, é a maneira como nos relacionamos com os outros. Enquanto cristão, lembra-te de que é no momento que parece que desistes de resistir ao mal que te é feito, que provavelmente está a levar a justiça mais a sério.
11. SERMÃO DE 23 DE SETEMBRO DE 2018 (em Mateus 6:1-4)
- Mais perigoso do que sermos vistos como gente má aos olhos dos outros, é vivermos querendo ser vistos como gente boa. Também é este facto que faz do Diabo um tentador inteligente, que ataca subtilmente no que parece certo, e não um incompetente que nos alicia para coisas que são escancaradamente más aos olhos de todos. Os cristãos são pessoas que reconhecem o perigo do mal, sobretudo porque o mal é eficaz ao ponto de poder disfarçar-se nas melhores coisas que fazemos. É por isso que somos pessoas carentes a um nível de precisarmos de ser salvos. Precisamos de ser salvos do mal que fazemos e do bem que querendo fazer também rapidamente se pode tornar errado. Precisamos mesmo de um salvador. Isto muda logo a maneira como nos comportamos e como falamos uns com os outros. Numa Igreja a sério a causa que procuramos não é mostrarmos que somos bons, ou que temos a razão. O que interessa é mostrar Jesus Cristo – tudo o resto é uma vaidade e deve calar-se. Ser cristão é abdicar de provar que se é bom para que ser bom possa ser uma consequência de se ser verdadeiramente cristão dependendo inteiramente da bondade de Jesus. Se vires um cristão pavonear-se das suas qualidades, foge dele – é uma companhia satânica que vai desgraçar a tua vida.
12. SERMÃO DE 21 DE OUTUBRO DE 2018 (em Mateus 6:10)
- Se examinarmos as nossas orações, o mais provável é estarmos concentrados nas nossas necessidades imediatas, necessidades imediatas essas que muitas vezes se confundem com um desejo de reinarmos sobre as circunstâncias. Assim sendo, o que interessa não é esquecermos as nossas necessidades imediatas porque as nossas imediatas fazem parte do modelo de oração que Jesus no ensina, recordando uma vez mais o exemplo do pão de cada dia que nos deve ser dado por Deus. O que está em causa é assumirmos a tentação de preferirmos orar querendo reinar sobre as circunstâncias, em vez de orarmos para que as circunstâncias sejam as do Reino de Deus. Isto não está longe de tomar a oração como uma maneira de sermos nós a fazer alguma coisa com Deus, e não o contrário. Quando oramos por circunstâncias controladas estamos a desperdiçar o luxo que está ao nosso alcance que é orarmos pela própria presença de Jesus – que é o que está em causa em pedir que venha o seu Reino. O nosso pior não é tanto por desfiarmos desejos junto de Deus que sejam abertamente negativos (não teríamos grande coragem para isso!), mas mais o medo que sentimos de vivermos a confiar que Deus é bom, independentemente das circunstâncias. Somos maus, mas, sobretudo, somos medrosos. É por isso que a Bíblia passa a vida a dizer-nos: não tenham medo!
13. SERMÃO DE 18 DE NOVEMBRO DE 2018 (em Mateus 6:12, 14-15)
- Para nós, enquanto cristãos evangélicos, é fundamental afirmar isto: aceitamos que somos pecadores e que precisamos de perdão, não tanto porque essa é uma afirmação que brota espontaneamente de nós, mas porque ela vem do que Deus diz na Bíblia. A ênfase da Bíblia é conceder que não somos nós que entendemos melhor o que o nosso pecado é, mas quem sofre os seus efeitos – aqueles a quem deixamos em dívida, para usar a linguagem da quinta petição da oração do Pai Nosso. Precisamos de fazer alguma coisa em relação aos homens contra quais pecamos e em relação a Deus, contra quem pecamos também – essa coisa é o perdão. Também é por isto que Jesus veio, viveu, morreu numa cruz e ressuscitou.
14. SERMÃO DE 25 DE NOVEMBRO DE 2018 (em Mateus 6:13a)
- A ênfase do cristianismo, materializada na encarnação do nosso Senhor, não é dizer-te que tão boa que a vida seria se não tivéssemos tentações, mas dizer-te que é bom sermos tentados e, confiando em Deus, resistir. Por que razão não criou Deus um mundo em que o pecado e a tentação simplesmente não pudessem acontecer? A resposta está relacionada com o amor: Deus prova-nos melhor que nos ama quando coisas más podem acontecer e, ainda assim, o resultado é bom por conta de confiarmos nele. O Diabo é mau porque nos tenta fingindo coisas boas na nossa vida; Deus é bom porque das coisas aparentemente más saca bons resultados – não dá para fugir a este paradoxo. A chave para aceitarmos melhor uma coisa aparentemente negativa, que é a possibilidade de sermos guiados à tentação, é lembrarmo-nos de que nesse processo, resistindo-lhe, reconhecemos mais intensamente Deus como nosso Pai.
15. SERMÃO DE 6 DE JANEIRO DE 2019 (em Mateus 6:13a)
- A Bíblia não se poupa em exemplos de pessoas que, depois de tentadas e depois de terem cedido à tentação, passaram a ter uma nova perspectiva sobre a realidade e sobre si próprias. O objectivo de Deus permitir que possamos pecar, cedendo nós à tentação, é também mostrar-nos coisas acerca de nós que geralmente estão ocultas, dormentes diante de circunstâncias comuns e favoráveis. Há revelação acerca de quem somos quando, ao sermos tentados, caímos, mas igual e preferivelmente quando resistimos.
16. SERMÃO DE 20 DE JANEIRO DE 2019 (em Mateus 6:16-18)
- Se o campeonato da bondade é feito em jogos de aparências, então não te importes de ser desclassificado. Mais ainda: corre o risco de te desclassificarem no campeonato da bondade fazendo o que é certo parecendo que fazes o errado. Se os outros se querem mostrar heróis, não tenhas medo de parecer o bandido. De certo modo, podemos dizer que Jesus está a ensinar-nos a suspeitar mais dos bons do que dos maus. Afinal, não há maior desilusão do que uma traição, de vir o mal de alguém que julgávamos estar a fazer o bem. É preferível sermos surpreendidos por quem julgávamos estar mal e, contra todas as expectativas, nos mostra que estava a fazer o bem. O cidadão do Reino de Jesus aprende alguma coisa com mafiosos, neste caso, fazendo o que é certo, desde que pareça um acidente.
17. SERMÃO DE 17 DE MARÇO DE 2019 (em Mateus 6:25-34)
- Uma das coisas que mais pode prejudicar a pessoa que segue Jesus é ler mal aquilo que é belo, através de um olhar estragado. E, para corrigir um olhar estragado, é preciso que Deus o componha – temos de aprender a olhar para o mundo como Deus o vê, apocalipticamente. As escamas têm de sair dos nossos olhos. Quando chegamos a esta parte acerca da ansiedade, Jesus intencionalmente mistura aquilo que corre mal com o nosso coração com aquilo que de bom devemos ver fora de nós. Ou seja, sentimos mal cá dentro também porque vemos mal lá fora. Jesus vai oferecer um tratamento para a nossa ansiedade a partir de olhar para as aves e considerar os lírios do campo. O segredo é desistir de ver o mundo a partir da sinistra substituição sugerida por Satanás, em que sabemos tanto como Deus. O segredo é aceitarmos o nosso lugar como filhos de Deus, como Jesus é seu, e confiarmos que aquilo que ele nos promete, cumprirá. A verdade está na beleza de vivermos tomados ao colo por um Deus que é nosso Pai. Não tomes o mundo ao teu colo porque vais morrer doido de ansiedade. Confia em Jesus, que ele torna-te filho do Criador e servido por ele.
18. SERMÃO DE 24 DE MARÇO DE 2019 (em Mateus 7:1-5)
- Jesus revela-nos que boa parte da nossa injustiça está precisamente no que tomamos como a nossa justiça própria. Julgamos mal porque confiamos na nossa justiça própria, porque nos colocamos imprudentemente no lugar de um juiz que só Jesus pode ser. Alguém que se convence da sua própria qualidade é alguém que vê tão mal ao ponto de querer tirar remelas aos outros com balizas espetadas na sua própria vista. Quando creio na minha justiça sou um míope a olhar para o mundo. A razão por que os outros nos parecem sempre tão facilmente reprováveis é porque, olhando o mundo a partir da nossa qualidade, não sabemos realmente quem somos, piores do que julgamos, não sabemos quem os outros são, pessoas tão más como nós, e não sabemos quem Deus é, capaz de perdoar qualquer um.
19. SERMÃO DE 26 DE MAIO DE 2019 (em Mateus 7:24-27)
- Quanto pior lidamos com o tempo, menos amamos Jesus. A nossa vida de discípulos de Jesus pede tempo e espaço – quem quiser pressas vai ficar pelo caminho. A palavra em prática que Jesus torna parte da tarefa de o seguirmos implica não só sabermos que vamos passar por provas, como prepararmo-nos para elas.
20. SERMÃO DE 9 DE JUNHO DE 2019 (em Mateus 7:28-29)
- Não tenhas medo de ter medo de Jesus. As pessoas que nunca sentiram qualquer tipo de medo na tarefa de seguirem Cristo, provavelmente conhecem-no muito pouco. Não é casual que quando lemos, por exemplo, o episódio da tempestade que Jesus acalmou, no fim os discípulos estão mais assustados com ele do que no início estavam com a tormenta no mar (Marcos 4:41). Se, pela negativa, já vimos que a ansiedade nos domina, então tenhamos este temor a Cristo como parte do processo exigente de sermos progressivamente dominados por ele.
Nesta manhã, toma Jesus como o único que pode reinar na tua vida.