sexta-feira, abril 30, 2021

"Colégio Inferno" dos Punhais


“Colégio Inferno” é a nova canção dos Punhais. O Fernando Pessoa dizia: “Ai que prazer não cumprir um dever, ter um livro para ler e não o fazer”. Concordamos ao mesmo tempo que reconhecemos que também pode dar-se hoje o contrário: ter um livro para ler e não o poder fazer. Este é um minuto e meio de punk rock que, ao mesmo tempo que se balda às aulas, salva livros da fogueira. E com a vantagem de, pela primeira vez, contar com o Lipe dos Pontos Negros nos coros!

quinta-feira, abril 29, 2021

O melhor é a memória

Ainda nesta manhã, a caminho da Igreja, pensava em como todas as questões importantes estão relacionadas com a memória. Os antigos sabiam disso melhor do que nós, parece-me. Também por isso, Agostinho tinha presente que a memória é um órgão espiritual. Tudo na vida é acerca de como somos lembrados ou não.

Os judeus criam que era imperativo dizer de peito cheio: “Lembra-te, Israel”. Lembrar era voltar a ouvir. Somos mais fracos sempre que vivemos de novidade em novidade, esquecendo-nos de nos lembrar. Não é, por isso, por acaso, que as doenças que tendem a assustar-nos mais são aquelas em que a pessoa se esquece porque o esquecimento é garantia mais implacável da despersonalização. Quem somos se esquecermos tudo o que fomos?

Sou cristão também porque Jesus foi a memória feita pessoa. Jesus foi o verbo inicial a voltar ao que fez. Jesus foi acolhido por aqueles a quem é dado o dom de lembrarem que é a ele que devem a existência. E Jesus é rejeitado por todos os que, com mais intenção do que querem assumir, esquecem que sem a voz criadora de Deus não existiriam. A salvação de uma alma é sempre um exercício de memória.

Os piores momentos que vivemos são momentos em que nos achamos esquecidos. Desaparecemos porque sentimos que ninguém se lembra de nós. Se deixarmos de existir nos outros é pouca a vida que nos interessa. Jesus soube o que era sentir-se esquecido quando clamou na cruz que tinha sido desamparado por Deus. O nosso Deus sabe o pior que podemos viver porque Cristo foi o homem mais escandalosamente esquecido da história.

Ao mesmo tempo, quando acontece, no maior esquecimento global que podemos atravessar, sermos lembrados por Deus, uma vida nova pode começar. Ressuscitar é também isso mesmo, isso de sermos erguidos do esquecimento mais ancestral. Já pensámos no facto de a esmagadoríssima maioria das pessoas que já existiu já ter sido completamente esquecida? Se houver algo de bom que lhes pode acontecer, é a ressurreição, que é uma vida nova após a pior morte de todas que é o esquecimento.

As canções e as poesias que exprimem que fomos lembrados ou que lembrámos alguém são as mais bonitas. As melhores coisas que já fiz são sempre acerca de alguém que recordei ou quando fui recordado por alguém. O melhor é sempre a memória. Não porque ficou lá atrás mas porque nada de consistente lá à frente pode existir sem ela. Todos nós somos resultado de um gesto criador divino no pretérito.

Eu já trazia estas ideias na cabeça, nesta manhã, mas elas saíram-me disparadas agora porque ouvi a canção nova dos HMB com o Rui Veloso. You know what I mean, sendo eu bera como sou, não estou interessado em gostar de duetos com o Rui Veloso (nada contra ele, o cliché de um dueto com ele é que é um pouco insuportável, right?). A cena é que a canção é de uma simplicidade e verdade que me desarmaram a má vontade. Além da harmónica inicial à Stevie Wonder, da melodia directa, de os sacanas dos HMB terem posto o Rui Veloso a cantar “Deus”, além de tudo isto, a canção faz o mais evangélico de todos os apelos: lembra-te de mim. Man! Deus nunca se esquece de nós. É isto.

quarta-feira, abril 28, 2021

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Só me conheço quando sou conhecido", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

segunda-feira, abril 26, 2021

Até que partilhes as tuas fraquezas ficas perdido

Porque ontem foi 25 de Abril

sábado, abril 24, 2021

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O sermão de Domingo passado, chamado "A porcaria de ser o primeiro", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

quinta-feira, abril 22, 2021

Em voz alta

Cresci a ouvir textos serem lidos em voz alta; primeiro na Igreja, depois na escola. E depois, noutro lugar qualquer, fosse num programa de televisão ou num espectáculo ao vivo. Mas reconheço que só agora começo a entender melhor o poder da leitura oral. O prazer que agora tenho em ler as coisas em voz alta surpreende-me. Já não devia ter chegado cá antes?

Há uns anos o meu Filipe Costa Almeida lia-me um poema no meio da Fnac quando, por alguma razão, passámos por uma e estávamos a dar uma vista de olhos aos livros. Lembro-me que me senti embaraçado porque uma leitura pessoal que se tornasse pública, sem uma justificação maior, parecia-me falta de vergonha. Agora, lembro-me muitas vezes do Filipe a ler-me em voz alta mesmo que me tenha esquecido do poema que era. E, como me meto volta e meia a ler alto na nossa varanda, penso que posso ser o Filipe dos meus vizinhos.

Tenho lido assim o Jorge Luís Borges, o Alexandre O’Neill, a Adília Lopes. A poesia atrai-me mais agora. Tento evitar aquele excesso de solenidade à portuguesa, que me irrita porque me transmite mais trejeito do que texto. Todavia devo assumir que português dado à poesia estou, lendo palavras em voz alta, convicto que isso torna mesmo a nossa vida melhor.

Há, claro!, o outro aspecto, maior ainda!, de ser um cristão, um pregador, alguém crentíssimo no poder da palavra. Leio agora os textos bíblicos com outra entrega, certo que enquanto não ler um em voz alta, ficarei por realmente compreendê-lo e interiorizá-lo. Era assim que os cristãos faziam há dois mil anos quando não havia o luxo das bibliotecas pessoais. Leio as palavras e ouço as palavras ao mesmo tempo. Não é incrível o poder da leitura em voz alta? Tão simples, tão óbvia, tão mais eficaz e, estupidamente, tão esquecida.

Preparo-me para ir à Sociedade Bíblica gravar o livro de Sofonias. Acabei de o ler em voz alta aqui na Igreja duas vezes seguidas. Que texto! Cidades na vertigem de serem arrasadas, povos inteiros avisados que vão pagar forte e feito e eu que me preparo para atravessar Lisboa embalado por estas palavras… Mas, lá está!, há um uma parte final importantíssima. A destruição vem e será implacável. Mas virá também uma paz futura, uma segurança garantida pelo próprio Deus, uma alegria duradoura. Senti-me bastante impressionado pelas descrições cataclísmicas de Sofonias. Mas, no fim delas, muito mais confiante na esperança. A esperança não é a imunidade ao pior; é o pior a vir, todo inteirinho, e Deus a assegurar que continuará com os seus. Tudo isto merece existir em voz alta.

quarta-feira, abril 21, 2021

Assobios

A. W. Tozer escreveu: “In our day, we have cheapened religion, salvation and our concept of God to such a place where we expect to stumble into heaven whistling and God will take us in.” Depois, mencionava Anselmo de Cantuária, que via as coisas de uma perspectiva bem diferente da nossa. Para Anselmo, a questão era: como é que Deus é capaz de olhar para nós, sendo ele perfeito e completamente justo e nós, a triste figura que somos?

O típico é nós nos angustiarmos perguntando: como é que posso olhar para Deus, concebendo que ele exista, com tanto mal à minha volta? Mas Tozer ajuda-me a ver, lembrando Anselmo, que mais realista seria eu perguntar-me: como é que Deus pode olhar para mim, com tanto mal cá dentro? Certamente que, ao lidarmos com estas duas abordagens diferentes ao assunto, não excluímos todas as outras. Mas que esta dicotomia me ajuda a questionar a minha pressa em fazer-me árbitro universal ao arrepio de um exame de consciência básico, ajuda.

O problema tende a ser a impressão que nos causa os problemas menos sérios. Se formos sérios com o problema maior que conhecemos, que sou invariavelmente eu mesmo, seremos mais sérios com Deus também. Dificilmente entraremos no Céu tropeçando nas melodias dos nossos assobios.

Diante de Jesus as tuas qualidade são uma porcaria

sexta-feira, abril 16, 2021

Aquela preparação para o sermão...

Tendo em conta que em Filipos muita gente tinha dedicado a vida ao poder do Imperador Romano, cabia aos cristãos denunciar que as grandes conquistas que dividem as pessoas entre vencedores e vencidos não valem nada diante da cruz de Cristo.

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Se não morres pelo mal dos outros, não os amas", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

quinta-feira, abril 15, 2021

Aquecendo para Domingo

"A ordem de os outros virem antes de nós só faz sentido para quem naturalmente não age assim, e a Bíblia, usando o exemplo do próprio Paulo, não acredita em pessoas que naturalmente colocam os interesses dos outros primeiro." Aquela preparação para o sermão em Filipenses 2:3-4...

"Odeio Artistas" com Ana Rute Cavaco


Já é de esperar que no final de uma temporada de uma série se tente que o último episódio tenha uma emoção especial. O “Odeio Artistas” não é televisão mas, neste caso, também procurou um auge ao terminar esta primeira estação. É com a Ana Rute, a minha mulher, como convidada, que o faço.

Não tenho muita muita experiência com podcasts mas, de facto, nunca ouvi num uma conversa de um marido com a sua esposa. Ei-la aqui. Espero que gostem. Conversámos sobre casar virgens (como evitaríamos o assunto?), sobre crises no casamento,  sobre o dilema de mostrar na internet muito ou nada da nossa vida, entre outras coisas.

Por ser a minha mulher, compreenderão que não me estique muito em elogios. Ouçam-lhe a voz porque, no meu caso, deixei de saber existir sem ela.

quarta-feira, abril 14, 2021

Um cântico

Que fiz em 2011 para uma mixtape da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica.

terça-feira, abril 13, 2021

O programa da TV

Já podem ver aqui a conversa que tive com a Anabela Mota Ribeiro para o programa "Filhos da Madrugada" da RTP3. Este é o link: https://www.rtp.pt/play/p8721/e536603/os-filhos-da-madrugada

segunda-feira, abril 12, 2021

És amado quando o teu mal é um facto

sexta-feira, abril 09, 2021

MICHAEL SCOTT E DWIGHT SCHRUTE

“Michael Scott e Dwight Schrute” não chega a ser a minha canção nova. Não sou eu a fazer uma canção; é mais eu a fazer questão. A fazer questão de mostrar que, tendo toda a Família Cavaco visto o “The Office” com muitos anos de atraso, o coração de todos atempadamente ficou arrasado. Quase-canção, quase-paráfrase, quase-poema e devoção completa. 

quinta-feira, abril 08, 2021

Prateleira

Quando arrumas uma biblioteca protestante há sempre mais um comentário a Romanos que te escapou de ser arrumado. Pena que os países culturalmente romanos nem sequer percebam a piada...

quarta-feira, abril 07, 2021

Ninguém nasce pronto para aceitar a ressurreição

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O sermão de Domingo passado, chamado "Reagir à Ressurreição não é estar pronto para ela", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

sexta-feira, abril 02, 2021

Uau

quinta-feira, abril 01, 2021

"Odeio Artistas" com Joana Amaral Dias


Um pastor e uma psicóloga entram num bar. Neste caso não é num bar mas é numa conversa online. Falam acerca daquele que é provavelmente o maior problema de sempre: o mal. Há mal ou não há? É apenas uma ideia da nossa cabeça ou vai mesmo além dela? O pretexto para a conversa do pastor e da psicóloga é um conjuntos de contos hediondos, verdadeiros, de assassínios quase indescritíveis. Todos eles acontecidos em Portugal.

A Joana Amaral Dias é um rosto cada vez menos desconhecido. O que talvez não fosse previsível é que o emprestasse a “Psicopatas Portugueses”, um livro de sucesso tornado podcast de sucesso também. Amantes do horror, confessem-se: quem consegue parar a audição destas histórias uma vez carregado o play? Não só não consegui como procurei a oportunidade de falar com a Joana sobre todo este tenebroso desfile.

Em comum com muitos dos assassinos em causa, partilho um mundo que crê em trevas, anjos, demónios, e outros apocalipses. Por isso, a dada altura, senti a necessidade de perguntar à Joana se poderia ainda dar em psicopata. Por muito científica que queira ser a psicologia, parece-me  que a certeza dessa resposta fica sempre além de nós.

A Joana Amaral Dias mistura psicologia médica, activismo político e, sobretudo nos últimos tempos, até algum cultivo pelo furo do consenso, numa época naturalmente ansiosa em encontrar na ciência a cura imediata para a pandemia global que vivemos. Por causa disso, a Joana é uma voz que se sente livre numa época de gente presa às unanimidades mais temerosas. Ganho em ouvi-la e, diria, que vocês também (vejam aqui no YouTube ou no Spotify).