sexta-feira, fevereiro 26, 2021
quinta-feira, fevereiro 25, 2021
sexta-feira, fevereiro 19, 2021
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quinta-feira, fevereiro 18, 2021
"Odeio Artistas" com João Miguel Tavares
Há uns anos estive com o João Miguel Tavares no programa do Goucha a falar sobre ser pai de quatro filhos. Depois dessa entrevista divertida, feita pela Cristina Ferreira (podem encontrá-la no YouTube), eu e o João acabámos a discutir religião no parque de estacionamento. Já nos conhecemos há umas décadas porque fizemos o mesmo curso de Ciências da Comunicação na Nova, onde o João tinha uma certa aura de menino prodígio. Não foi, por isso, de estranhar, quando ganhou notoriedade na imprensa nos últimos vinte anos.
Eu e o João é também a amizade da Família Cavaco com a Família Tavares. É uma história que tem crescido e que justifica que, ao pensar em fazer um podcast, pensasse necessariamente no João. As nossas conversas privadas tornaram-se combustível para esta conversa mais pública, mas diria que vai além disso. Há muita coisa que ando a conversar em 2021, a pensar em 2021, a escrever em 2021 que é também a continuação daquela conversa com o João no parque de estacionamento da TVI.
O episódio do “Odeio Artistas” de hoje, com o João Miguel Tavares, tem essa intensidade de quem é apanhado a discutir coisas que sente como as mais importantes, aquelas que servem de princípios sobre os quais apostamos a nossa vida toda. São duas horas de encontro aceso, tantas vezes em discórdia, sempre muito sincero. Cristianismo, Faculdade, artistas malditos amados por nós como o João César Monteiro, o discurso que fez no 10 de Junho convidado pelo Presidente da República, e por aí fora. Caramba! Duas horas sempre a ferver—grande João!
Podem ouvir o episódio no YouTube, no Spotify ou nas outras plataformas digitais.
segunda-feira, fevereiro 15, 2021
quarta-feira, fevereiro 10, 2021
segunda-feira, fevereiro 08, 2021
"Sinal da Cruz Invertida" dos Punhais
quinta-feira, fevereiro 04, 2021
"Odeio Artistas" com Jacinto Lucas Pires
Há tanto que me irrita nesta moda dos podcasts… Mas, por outro lado, há algo que não tinha pensado que podia ser bom: ter uma conversa e depois ouvi-la. Acho que crescemos todos a acorrentar as conversas à espontaneidade com que elas se dão, não pensando que pode haver algo que resista e que, por causa disso, justifique que possam ser visitadas novamente. Será que até ao podcast pensaríamos nisso? É certo que já havia conversas registadas em escrita e em imagem mas esta nova vida delas, trazida pelos podcasts, tem alguns méritos, parece-me.
A conversa que tive com o Jacinto Lucas Pires foi daquelas que estava mais apreensivo a ouvir novamente, confesso. Foi gravada há alguns meses, no fim do Verão, e alguns dos assuntos que impõem mais emoção pareciam agora destinados ao equívoco. Falo da política americana, ali comentada antes das eleições, comigo a admitir que, sendo o meu caminho mais à direita e o do Jacinto mais à esquerda, provavelmente votaria Trump se fosse americano. Faço por ser cauteloso nestas coisas do voto, até porque tenho uma responsabilidade de liderar uma comunidade religiosa: não quero relativizar as consequências ideológicas da nossa cidadania cristã mas também preciso de dar espaço à liberdade de consciência de cada um.
O Jacinto foi o amigo perfeito para lidar com estes dilemas que, enquanto cristão, encaro, até porque se notou nele algum sobressalto sincero. Acho que não exagero muito quando digo que vivemos um clima que lança vergonha sobre quem não se comporta de acordo com a divisão de tudo entre bons e maus. No entanto, os amigos são quem está connosco quando nem nós sabemos estar—um dilema também não é isso? O Jacinto, que é um homem de artes muitas, do texto escrito, ao encenado, passando pelo cantado, ouviu-me, caramba!, até quando ficou meio maluco comigo. Tenho grande alegria nesta conversa porque, até quando discutia vivamente com o meu amigo Jacinto, fui ouvido por ele. Ouçam o episódio de hoje do “Odeio Artistas” e viva o milagre de nos ouvirmos uns aos outros!
quarta-feira, fevereiro 03, 2021
O sermão, arte da insegurança
Vivo para me render ao texto. Um dos privilégio de ser pregador, quando preparo um sermão, é, diante de uma floresta brava que um texto pode ser, ameaçando-me na necessidade de trazer comigo exegeses, hermenêuticas e epistemologias várias, topar um caminho. Pode ser um caminho claro ao ponto de ser um trilho já usado por outros e, noutras ocasiões, pode resumir-se a ter de avançar passo a passo, abrindo tudo à catanada (geralmente é quando um pregador corre mais riscos, por se ver na posição de atravessar o que julga que nunca foi atravessado). Por exemplo, ando de volta do quarto capítulo da Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses. Paulo está a dizer àquele povo que tem de continuar atinado, sendo santo e sem dormir com quem não deve. E, de repente, lendo um comentário bíblico, encontro um sentido para santidade que até hoje nunca se tinha feito tão claro.
Como pregador cabe-me pegar em ideias que podem nem sempre parecer simples e torná-las assim na exposição do texto bíblico. Por exemplo, sob uma perspectiva puramente literária, Paulo não é o escritor mais acessível. Agora calculem a tarefa de alguém que, ao lê-lo, crê que ele estava inspirado por Deus quando escrevia as suas cartas e que, por isso, entendê-lo não é um luxo de quem se arma em rato de biblioteca mas uma necessidade—necessidade essa ao ponto de poder distinguir o que é ter a sua alma de não ter. Como simplifico um conceito de santidade que Paulo desenvolve numa mesma frase que dura quatro versículos? Pois, aí está parte da arte e da artimanha de pregar o Evangelho.
Eis a minha tentativa, que planeio dizer publicamente quando pregar o sermão de próximo Domingo na Lapa: ser santo é ter uma vida que pertence a Deus. Quando sou santo, não me tenho—Deus tem-me. Ser santo é não se ser dono de si e isso não ser mau. Por oposição, não ser santo é ser inquilino de mim próprio e isso ser mau. Geralmente não ser santo vê-se no modo como o nosso apetite sexual nos cobra a renda. A obsessão dos cristãos com o apetite sexual limita-se ao facto de sermos criaturas que, sem ele, não existiam. No dia em que existirem pessoas sem ser através do uso do sexo, não existirá a necessidade de os cristão chatearem ninguém por causa dele. Todavia, enquanto o sexo estiver relacionado com a nossa existência, a qualidade dela dependerá de como o usamos a ele. Não me parece assim tão absurdo aceitar esta relação entre sexo e existência.
No final, já estou a extrapolar um pouco, tomando a apresentação da tese sensível a hipotéticos argumentos contra ela. Qualquer pregador prega à Dom Quixote, imaginando previamente os moinhos de vento que podem levantar-se contra ele. A minha tarefa tem de ser o equilíbrio entre o que o texto diz e o que, como Pastor, devo dizer à congregação a partir dele. Não há receitas perfeitas. Claro que há princípios. Mas não vale a pena julgar que a pregação de um sermão é uma arte segura. No dia em que a segurança caracterizar o sermão, ele morreu. O pessoal agora diz “stay safe” mas os Cramps acertavam mais quando diziam, ainda que com alguma indecência à mistura, “stay sick”.