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"Clickbait" dos Punhais
quinta-feira, agosto 05, 2021
Quando timidez é intimidação
O sermão passado, em que preguei acerca de orarmos mais e melhor, suscitou perguntas sobretudo acerca da maior exuberância na oração que recomendei. Diria que a nossa tendência é olharmos para o assunto a partir daquilo que nos parece ser a nossa personalidade, e consequentemente apreciar a possibilidade de aderirmos ou não a expressões de oração mais “físicas” ou a mais “améns” pronunciados em voz alta no culto. Mas em vez de prolongar teorias temperamentais prefiro lembrar um texto que, não sendo acerca de exuberância na oração, é, em Marcos 5:40, acerca da timidez da fé.
No meio de uma tempestade no mar, os discípulos num barco à mercê da intempérie e na aparente indiferença do Mestre que descaradamente dorme, perguntam a Jesus se ele não se importa com a morte deles. E esta é uma das questões da nossa vida: se passarmos mal, e passarmos mal ao ponto de podermos morrer, Deus importa-se com isso ou não?
Jesus responde: “Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé?” Para ser sincero, esta resposta de Jesus sempre me pareceu, à primeira vista, cruel. Se a vida parece que nos vai engolir, como é que Deus pode fazer pouco do pânico que isso nos causa? É óbvio que uma tempestade no mar nos intimida—como é que Jesus, que é Deus feito homem, não empatiza com isso? Por que é que a Bíblia implica com a intimidação que sentimos (tímido está ligado a intimidado) e não com o perigo do mar e do vento?
A bom rigor, Jesus repreendeu o vento e o mar e, de facto, a tempestade terminou. Mas a melhor ajuda que Cristo pode dar aos que o seguem não é interromper-lhes tempestades mas interpelar-lhes a timidez. Se, enquanto cristãos, nos falta o poder de mandar no que nos assusta, podemos pelo menos reconhecer o poder que o susto tem sobre nós. E, ironicamente, a maior lição é aprendida naquela ocasião da maneira mais involuntária: o medo que os discípulos sentiram da tempestade deslocou-se agora para o medo daquele que repentinamente mandou nela (v. 41). Hoje temos medo de ter medo mas temer Deus é o segredo para não temer mais coisa nenhuma.
Esta digressão pelo mar pode também terminar no modo como oramos. Até que ponto é que as nossas orações não são tímidas porque são intimidadas? Neste sentido, quero acreditar e sugerir que a exuberância, mais do que avaliada em gestos ou decibéis, é uma questão de confiança. Afinal, quem me cala quando realmente confio? Se comigo for no barco que atravessa a tempestade aquele “a quem vento e mar obedecem”, será que não posso verbalizar essa presença um pouco melhor? Dá para pedir um amém ou é demais?