sexta-feira, março 15, 2024

"Um very light na barriga"


Com o Samuel Úria e o kadeirado.

quinta-feira, março 14, 2024

São Jonas


Graças a um convite generosíssimo do Padre Nuno Santos, ontem estive a dar uma aula de Soteriologia Protestante na Universidade Católica. Comigo levei o Filipe Sousa, o meu co-pastor, e o Jonas Madureira, que estando nestes dias em Lisboa na semana intensiva do Seminário Martin Bucer a ensinar Liturgia e Discipulado, providenciou o alinhamento perfeito das circunstâncias. Neste retrato, tirado pelo Filipe, dá para ver São Jonas no uso da palavra nesta pontifícia lição e eu, claro, já na entrada do êxtase.

quarta-feira, março 13, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Mudanças líquidas", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

Travar a nossa fé duvidando da dos outros

sexta-feira, março 01, 2024

Fingiste que não me viste

terça-feira, fevereiro 27, 2024

A derrota do cristianismo vencedor

Sempre que um cristão tenta salvar o cristianismo o resultado é mau. Um cristão deveria saber que é o cristianismo que o salva a ele, e nunca ele que salva o cristianismo. Mas o esquecimento disto traz, volta e meia, a arrogância da tentativa.

Aprendemos na Bíblia que é Jesus que nos salva e não nós que salvamos Jesus. Por que temos nós, então, a tentação de querermos salvar Jesus, e como é que na prática isso acontece? A tentativa absurda dos cristãos salvarem Jesus vem geralmente em forma de um esforço bem intencionado de relações públicas. Quando o cristão sente que o cristianismo anda na mó de baixo, tenta pô-lo para cima novamente (o facto de Pedro ter repreendido Cristo quando Cristo começou a falar da sua morte já era um prenúncio do problema).

Os cristãos bem intencionados (geralmente, o pior tipo de cristãos) puxam então a auto-estima do cristianismo para cima, corrigindo a visão que o cristianismo tem acerca de si e principalmente corrigindo a visão que os outros têm acerca do cristianismo. Embarcam estes cristãos num discurso que é mais ou menos assim: o verdadeiro cristianismo não é como vocês julgam que é, o cristianismo verdadeiro não cai nos erros em que todos concordamos que está a cair, etc. Para estes cristãos bem intencionados, o cristianismo verdadeiro conhece-se quando correctamente corrigido.

O cristianismo corrigido é a busca por um cristianismo à prova dos dedos que se lhe apontam. O cristianismo corrigido é, afinal, a procura do maior consenso possível. Um cristianismo assim deve ser sobretudo vencedor, indisputado nas vitórias que amealha, nas glórias que acumula. Um cristianismo corrigido assim poderá então mostrar historicamente a sua qualidade, indesmentível por todos aqueles que forem sensíveis a vitórias.

Menos do que isto, o cristianismo será divisor e dividido, chocante, radical, desordenado e, sobretudo e escandalosamente, derrotado. Quem quer um cristianismo derrotado? Precisamos de salvar o cristianismo destas derrotas, certo? Precisamos de salvar o cristianismo.

Enquanto protestante, venho de uma tradição que valoriza a reforma. Não será a reforma uma tentativa de salvar o cristianismo também? Espero que não mas não posso ter a certeza. Ainda assim celebro o facto de o cristianismo em que creio continuar tão flagrantemente derrotado ao ponto de os cristãos serem tentados em salvá-lo. Quando o cristianismo se tornar algo em que todas as pessoas concordam que ganhou, venceu finalmente o Diabo.

É precisamente por ver o cristianismo constantemente derrotado que sei que Cristo ainda está a fazer alguma coisa nele. O pior que nos pode acontecer é arranjarmos o talento de salvarmos o cristianismo.

Ouvir

segunda-feira, fevereiro 26, 2024

Odiamos quando Deus é bom

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "O namoro entre a idolatria e a injustiça", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

terça-feira, fevereiro 20, 2024

Um deus falso é sempre mais simpático

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "O cristão e a política", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

Políticos não salvam ninguém

terça-feira, janeiro 30, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "A igreja que atrai e afasta", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

O segredo de uma Igreja Pentecostal

terça-feira, janeiro 23, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Ossos transformados em ouvidos", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

segunda-feira, janeiro 22, 2024

Viver numa cena sinistra

quinta-feira, janeiro 18, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "A desgraça chegou—o que fazer?", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

terça-feira, janeiro 16, 2024

Quando sofres ligas o som?

quarta-feira, janeiro 10, 2024

Ser santo no Goucha

A Cabeça de Diogo Alves

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Não vemos a luz, a luz é que nos vê", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

terça-feira, janeiro 02, 2024

Tu não vives a vida real

segunda-feira, janeiro 01, 2024

O meu ABC de 2023

A. Avó Paula

Partiu a minha Avó Paula. Tinha 94 anos e era a última avó que tinha (além dela só conheci o meu avô materno, que partiu em 1989). A minha Avó Paula nunca foi uma avozinha dos livros, de doçuras e mimos. Foi uma mulher rija, incansável, providenciadora (enviuvou ainda nem 40 anos tinha). Foi dada para servir com 4, 5 anos e nunca aprendeu a ler. Fazia por não se deixar enganar, defendia os seus, era tramada quando desconfiava dos outros. Nos últimos anos tinha pena dela quando a família a visitava no lar e a fulminava de perguntas para ver se a sua cabeça ainda estava boa. Vingava-se depois no restaurante, comendo o que lhe era servido e mais se possível, de preferência sem grandes conversas. Se o carinho não era o seu forte, o amor que nos tinha era visível pelo modo como sempre nos serviu, os netos. Na minha infância deixava a Marinha Grande e passava umas temporadas connosco na Amadora—dava-me “casadinhos”, que eram pares de bolachas torradas com manteiga no meio (uma maravilha simples!). Não lhe conheci fé mas tenho esperança que tenho feito as pazes com Deus antes de ir ter com ele. Já tenho saudades da minha Avó.

B. Bíblia

Tenho desafiado a Igreja da Lapa a ler mais a Bíblia, a ler a Bíblia toda, a ler a Bíblia mais rápido, a ler a Bíblia em voz alta, a viver dentro da Bíblia para que a Bíblia viva na nossa vez. Se conseguir ser um homem a sério, quero ser um homem deste assunto da Bíblia apenas.

C. Catolicismo

Já tenho partilhado esta opinião com os meus amigos católicos mais chegados: desde que me recordo, este foi o pior ano para o Catolicismo. Nunca foi tão fácil ser protestante. E termos visto Lisboa transformada em parque temático das boas vibrações do “todos, todos, todos” foi apenas a manifestação óbvia de um tempo católico tão desinspirado que até eu, que sou evangélico, tenho de me refrear para não bater mais no ceguinho.

D. Disco do ano

O disco que escolho para 2023 é o “Saved” da Reverend Kristin Michael Hayter. Imaginem uma mistura de Diamanda Gálas com Lana Del Rey. Só que ao passo que hoje em dia as cantoras que fazem o percurso da religião para a bruxaria parecem ser recompensadas, esta tem feito o oposto. Logo, a Reverend Kristin canta uma espécie de catarse pentecostal apocalíptica que atravessa black metal e tele-evangelistas do sul dos Estados Unidos—é uma música que vai a caminho da luz e isso não acontece sem dar voz às trevas mais sinceras. Uma preciosidade, vão por mim.

E. Evangélicos

Este ano foi de uma imensa mediocridade para os evangélicos. Depois dos anos excepcionais de 2020, 2021 e 2022, em que as igrejas tiveram de se transcender para assistir as suas comunidades nas condições extraordinárias da pandemia, regressou a normalidade. Com a normalidade regressou também o comodismo. Os evangélicos amoleceram, tiveram mais olhos que barriga, aumentaram os seus celeiros, quiseram as festas católicas das tragicómicas Jornadas da Juventude que não lhes pertenciam, e até ao Papa fizeram olhinhos. Vi igrejas trocarem a palavra pelo show burguês, vi pastores adequarem as suas teologias à clientela crescente, vi o Diabo todo contente connosco. Jesus, esse, foi mais difícil de encontrar entre nós… 

F. Filme

O “Tokyo Story” do Ozu foi o filme que mais marcou o meu 2023. Nunca é tarde para se chegar à beleza.

G. Granada

Visitei Granada no início do ano. Só então me apercebi que a palavra “granada” significa romã e que a arma tem esse nome pela semelhança ao fruto. A minha ignorância não tem fim… Em Outubro a nossa Igreja na Lapa recebeu uma dezena de pastores evangélicos vindos dessa região de Espanha e foi óptimo. Vivemos ao lado dos espanhóis e tristemente ainda nos ignoramos tanto. Esta ligação com Espanha nasceu por intermédio de um brasileiro, o Pastor Guilherme Blois Neto. Por que Deus espalhou brasileiros pelo mundo? Para que eles façam o mundo ficar mais junto.

H. Humildade

No ano passado um leitor comentou “O meu ABC de 2022” dizendo que era “pouco cristão este cristão [eu] falar tanto de si”. Esta crítica martelou-me na cabeça durante 2023 (nada como bocas sortidas em caixas de comentários da internet para que nos nasçam grilos falantes nos ombros). É um defeito que tenho, reconheço, o de ser tão concentrado em mim mesmo. Mas, por outro lado, de que outra coisa pode um cristão falar? Dos outros? É sequer possível falar seriamente acerca de outro assunto além de nós? São perguntas sinceras, estas que admito numa tentativa de superação narcísica.

I. Internet

Tenho um sonho pós-apocalíptico para o futuro (quem sabe 2024?). Imaginem que em vez de uma pandemia, a próxima calamidade global era a internet vir abaixo durante um tempo. Que prodígios acompanhariam a humanidade digitalmente desligada? Todo o meu optimismo envolve crises colectivas.

J. Jesus

Este ano quis deslumbrar-me na simplicidade de Jesus. Só ele para conseguir juntar coisas que nos parecem tão inconciliáveis como ser deslumbrante e ser simples. 

K. Kierkegaard

O meu K é quase sempre Kierkegaard. Ultimamente tenho andado a espalhar uns autocolantes pela zona de Alcântara e Santos que têm a cara do Kierkegaard junto à cara da Flannery O’Connor. Na minha cabeça eles fazem um casamento autoral perfeito. É um ministério evangelístico que tenho, o dos autocolantes.

L. Livros que marcaram o meu ano

“The Humiliation of The Word” do Jacques Ellul

“O Código da Bíblia” do Northrop Frye

“A Sociedade do Cansaço” do Byung-Chul Han

“A Menina Sem Estrela” do Nelson Rodrigues

“Diário de um jovem pároco de aldeia” do Georges Bernanos

“Totolino” do Alexandre Soares Silva

“Contra a Interpretação” da Susan Sontag

“The Crucible” do Arthur Miller

“Crazy Like Us” do Ethan Watters

“Moral Grandeur and Spiritual Audacity” do Abraham Joshua Heschel

e na banda desenhada

“Casa” do Paco Roca

“Acting Class” do Nick Drnaso

“Mar Negro” da Ana Pessoa (o único desta lista editado este ano

M. Maria, Marta, Joaquim, Caleb

Os nossos filhos cresceram em 2023. Os rapazes baptizaram-se. Cada um à sua maneira escreve textos, desenha, respira música. Deus os mantenha na palavra, Deus os mantenha na palavra.

N. Nação

Nação parece-me uma palavra pomposa mas serve para falar do nosso país. Por um lado, nunca acreditei tanto que somos o lugar onde nascemos e crescemos. Por outro, nunca acreditei tão pouco em patriotismo. Se pensar instintivamente acerca do Portugal de 2023 ocorre-me a beleza desta terra—é linda, caramba! Mas somos também uma gente temerosa, assustada, amealhando pequenas poupanças que impeçam qualquer risco sincero de investir seja no que for. A maior doença de Portugal é sermos um povo de remediados.

O. Oceano

Em 2023 contei 141 vezes que mergulhei no mar. Dá uma média de uma ida ao oceano a cada 2,5 dias.

P. Política

Aos 46 anos interessa-me cada vez menos a política e a pequena versão dela que nos calhou em sorte em Portugal. Curiosamente, num texto absurdo publicado no Expresso o meu nome foi citado para insinuar que representava uma tendência evangélica (e baptista em particular) próxima da ascensão da extrema-direita e do Chega. Quando a nossa imprensa supostamente séria imprime teorias da conspiração numa linha já de si delirante de “guilty by association”, muito fica dito acerca do conhecimento real das minorias religiosas e do respeito por elas. De um insular golpe de ressentida escrita criativa, os baptistas em Portugal receberam braçadeiras com suásticas. Parabéns, Expresso, pelo vosso alto índice de investigação jornalística!

Q. Quedas

Este ano teve algumas quedas tramadas. Tendo em conta que sou pastor evangélico, não fiquei longe de ver companheiros estatelarem-se (“aquele que cuida estar em pé, olhe que não caia”, já dizia o Apóstolo Paulo aos Coríntios). Sobressaíram pela positiva homens que me ensinaram fidelidade, consistência e trabalho como o Carlos Cardoso da Igreja Cristã Manancial de Águas Vivas e o Mário Rui Boto da Hillsong. Este ano foi também de recheada época de caça aos padres. Toda a autoridade será castigada, sobretudo a religiosa, ensina-nos o espírito do tempo.

R. Redeemer Presbyterian Church de Nova Iorque

Usei o nome da Igreja para falar do seu pastor Tim Keller porque o K já estava usado. Partiu o Tim Keller. Creio que o Tim Keller foi o evangélico mais consensual das últimas décadas. Se tivermos em conta que os evangélicos não dependem de consensos entre si para seguirem a sua vida de evangélicos, falar em maiores consensos entre eles não é nada pouco. Tive o privilégio de conhecer o Tim Keller e até de o ter uma vez num auditório onde falei brevemente—consegui não desmaiar sendo o fã dele que era. Vou escolher apenas uma das muitas qualidades dele para sublinhar uma necessidade que os evangélicos têm no seu diálogo com o mundo: saber ouvir. O Keller era um ouvinte e um leitor atento das palavras dos outros, até daquelas de que facilmente nos queremos ver livres. A eficácia do nosso testemunho cristão também depende do respeito que atribuímos a quem o recusa. Conheci isso naquele púlpito da Redeemer Presbyterian Church em Nova Iorque.

S. Séries

- Succession (como diz o Sami: Team Kendall sempre!)

- The Crown (a série foi bastante desequilibrada, que é o que acontece quando se aposta mais nos actores do que nos argumentos, mas, caramba, foram sete anos a seguir os passos de uma Rainha extraordinária)

- Fargo (só agora começámos mas cada episódio está a render)

- Seinfeld (tantos anos depois e a sua perfeição é ainda mais nítida)

- Sopranos (o mesmo que disse sobre o Seinfeld)

T. Tio da Figueira

Partiu o Teotónio Cavaco do Norte, o meu Tio da Figueira. Chamávamos-lhe assim porque morava há décadas na Figueira da Foz (mas deixou obra em Angola também). O primeiro pastor baptista da minha família foi o meu avô materno, Joaquim Lopes de Oliveira, mas o Tio da Figueira, meu tio-avô paterno, foi o pastor baptista mais velho da minha família que ainda vi no activo. Duas características conheci nele e espero que se prolonguem nos Cavacos que o seguem no ministério pastoral: não saber estar parado e o sentido de humor como uma pré-condição do púlpito. 

U. Urnas

Crise num Governo PS e o partido PS vai à frente das sondagens. O meu problema não é com o PS; o meu problema é com o lugar onde o PS consegue o dom de simultaneamente ser a doença e ser a cura. 

V. Vinte e um ano anos

Eu e a Ana Rute fizemos vinte e um anos de casamento. A seguir à minha fé, o casamento é o mais importante da minha vida. Sou muito grato a Deus pela mulher que tenho e oro para que lhe saiba retribuir. Espero que os nossos filhos, conhecedores das forças e fragilidades da união dos seus pais, aprendam a confiar em Deus para aventuras semelhantes. 

W. WhatsApp

Continuo a lidar mal com o WhatsApp. E cheguei a uma nova formulação: o facto de ter a aplicação do WhatsApp significa apenas que tenho a aplicação do WhatsApp. Não sou a tecnologia que tenho ao meu dispor.

X. Xico de Paço de Arcos

Lisboa e arredores estão cheios de alçapões alimentares para turistas e saloios sofisticados. Encontrar restaurantes a sério é importante numa época que qualquer cidadão que pavimenta uma lojeca com mosaicos hidráulicos e pespega um menu “consciente” na montra come papalvos por clientes. O Xico de Paço de Arcos é um restaurante a sério.

Y. Yago Martins

Durante duas semanas de Maio viajei do norte ao sul de Portugal com o meu amigo Yago Martins, evangélico brasileiro ilustre. Não deixa de ser revelador que nos últimos anos atravesse Portugal a pretexto de brasileiros. No fundo, só conhecemos o nosso lugar quando o mostramos a quem não o conhece. Ou, dito de outra forma, o conhecimento de alguma coisa depende sempre de a partilharmos com outros. Levei o Yago a Braga, ao Porto, a Aveiro, a Coimbra, a Lisboa, a Faro, até a uma praia espanhola! Neste lugares ele palestrou, pregou e eu e mais os meus companheiros Filipe e Miguel aproveitámos para dar música aos auditórios que se reuniam à volta do dom da palavra dele. Foi inesquecível.

Z. Zeros

A pergunta da praxe na letra Z: quais os grandes zeros de 2023 para os leitores? Choremos juntos para que também possamos rir juntos depois.

sexta-feira, dezembro 29, 2023

Canção para a Flannery O'Connor


Sou fiel a esta menina católica—"Canção para a Flannery O'Connor" com o Caleb.

Ouvir

terça-feira, dezembro 26, 2023

É com fome que se começa

TER O BIG BANG NA BARRIGA

O verdadeiro big bang não foi assim tão big e não foi assim tão bang—para quem dá crédito à primeira história do livro do Génesis, ele teve apenas o tamanho de um fiat. Não o carro mas a palavra: Deus disse “faça-se” e assim se fez. Talvez este fiat lux seja a coisa mais explosiva da história do universo e, sim, nessa medida, será o maior estrondo de sempre. É por isso que um cristão não pode não ser obcecado por aquilo que uma palavra apenas pode fazer.

Nas muitas palavras que os cristãos encontram na Bíblia, permanece a lógica de que o que Deus diz pode fazer qualquer coisa acontecer—nessa perspectiva, as Escrituras são um registo constante de big bangs. Uma das pessoas que mais intimamente lidou com o processo de Deus fazer big bangs quando fala foi Maria. Maria foi a escolhida para outro big bang que não é apenas a palavra de Deus criar algo novo, mas é a palavra de Deus se tornar ela mesma uma pessoa. Visto assim, talvez o maior big bang da história não tenha sido o estrondo externo cósmico, mas o crescimento lento de uma criancinha na barriga daquela jovem hebreia.

Deslumbra-nos o arrojo da sugestão bíblica: a jovem Maria é visitada por um anjo que lhe anuncia que vai parir Deus. Maria, que não era diferente de nós, duvida, claro. Por todas as razões e mais algumas, não lhe estava nos planos. Mas há um mas. E na Bíblia a palavra “mas” é sempre promissora. Maria não esconde o cepticismo mas Maria sabe que o cepticismo não enche a barriga de ninguém: mal por mal, é a favor de que aquela palavra, por impossível que pareça, lhe seja escrita. E o gesto de não se satisfazer com o cepticismo é o que literalmente lhe encherá a barriga. Todos precisamos de ser Marias.

Maria teve o big bang na barriga e isso muda a história da humanidade. Quando uma mulher responde “sim” em vez do “não” que facilmente damos a Deus quando ele nos parece inacreditável, tudo pode acontecer. Cristo não nos acontece sem que a nossa palavra se junte à palavra que ele já é. Maria é uma mulher grávida na mesma medida em que deu conversa a Deus. Até ouvirmos as palavras que Deus nos diz, e especialmente as mais inacreditáveis, não geramos vida nenhuma. Na Bíblia, a esterilidade é sempre um modo de interromper o que o Criador nos está a dizer.

Um novo universo nasceu quando Maria disse o que Deus disse para criar o universo: faça-se. Faça-se em mim, cumpra-se em mim, disse Maria a Gabriel. “Fiat mihi secundum verbum tuum”. O que devemos dizer ao fiat de Deus? Fiat mihi. Vai rimar mas não vou resistir escrever assim: estamos na hora da graça quando se dá o encontro do “faça”. Encontra-se o “faça-se” de Deus na sua palavra com o nosso “faça-se segundo a tua palavra”. Fé é dizermos ao que Deus fala “faça-se em mim”—encontramos isso em Maria e encontramos isso, ainda mais e em estado perfeito, em Jesus. Jesus é o “faça-se” em pessoa.

Não há história como a do big bang na barriga de Maria.

sexta-feira, dezembro 22, 2023

Leões a ronronar ao nosso colo

Nos 1189 capítulos que a Bíblia tem apenas nos dois primeiros há uma harmonia razoável entre nós e o mundo. Mal chega Génesis 3, tudo corre mal. Acaba-se a paz. Aí o mal entra no coração do homem e parece que nunca mais vai sair. É verdade que os últimos capítulos do Apocalipse nos atiçam com a perspectiva de um mundo novo onde, finalmente, o mal terá o que merece. Mas temos de encarar o facto de que as páginas da Bíblia não têm grande quantidade de paz com o mundo.

Alguns adversários do cristianismo dizem que a crença nas consequências universais do pecado pode ser um modo de não cuidarmos da natureza. Não estou certo disso mas reconheço que nós, cristãos, não romantizamos a nossa ligação com o ambiente. Acreditamos que o mal que acontece dentro de nós faz com que o mal aconteça fora de nós também. Por causa disso, a paz que qualquer um deseja facilmente esbarra com as circunstâncias externas que vivemos. Sentimos o mal cá dentro e sentimos o mal lá fora.

Lembram-se do profeta Daniel na Babilónia? Que história! E é mais do que uma história—é meia dúzia delas. Daniel era um estrangeiro inteligentíssimo num sistema imperialista bastante opressivo, como hoje o pessoal gosta de dizer. A Babilónia sendo a Babilónia tinha olho para detectar gente esperta entre os inimigos que conquistava. Daniel apenas precisava de se conformar para que alcançasse alguma paz neste sistema—neste caso, precisava de se desligar do seu Deus parando as suas hebraicas devoções diárias. O dilema para ele tornou-se este: paz com as circunstâncias ou paz com Deus?

Daniel escolheu a segunda opção e isso significou que as circunstâncias se vingaram dele… na forma de uma cova cheia de leões rugindo. A natureza pode tornar-se bem perigosa quando Deus é a nossa prioridade. Mas um anjo fez aquelas bestas portarem-se como gatinhos e Daniel saiu poupado. Todos ficaram fora de si. Deus pode fazer leões ronronar ao teu colo—e é um espectáculo quando assim é. Mas paz também é o que acontece quando bestas se comportam como bestas e nos comem vivos. Afinal, foi mais isso o que Jesus experimentou. Na cruz Jesus foi comido vivo para que confiemos que, até quando as circunstâncias externas nos perturbam, haverá um tempo de paz que acabará mesmo por vir. É isso que está em causa na morte e na ressurreição de Jesus.

O preço da paz foi caro—foi pago por nós!—para que esperemos com confiança na sua chegada futura e perfeita. Cristo é essa paz eterna. Daí que não seja nada despropositada a oração que pede a Deus que abra os nossos olhos para a verdadeira paz—algo muito maior do que a harmonia imediata com a natureza ou a ausência de dificuldades. Os cristãos acreditarão que através do Espírito Santo lhes pode ser dada a coragem que Daniel teve para que beneficiem do que Jesus fez ao morrer e viver novamente. O facto de aqui podermos ser devorados por leões não significa que um dia eles não possam ronronar ao nosso colo.

quarta-feira, dezembro 20, 2023

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "Os nossos pecados à mostra", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

terça-feira, dezembro 19, 2023

O que o mundo precisa é trevas

sexta-feira, dezembro 15, 2023

Preparando o sermão de próximo Domingo

A melhor luz que os cristãos podem ser para o mundo é não esconder dele as trevas dos nossos próprios pecados.

Samuel Isaac de Jesus Úria

quarta-feira, dezembro 13, 2023

Duas perguntas

É boa a pergunta “qual é o mal que o Diabo anda a fazer?” Mas a pergunta “qual é o bem que parece que o Diabo anda a fazer?” ainda é melhor.

terça-feira, dezembro 12, 2023

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado "O nosso tempo e o tempo de Deus", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

segunda-feira, dezembro 11, 2023

Deus em fraldas

quarta-feira, dezembro 06, 2023

A minha história de amor com a Ana Rute


Contada ao Goucha.

sexta-feira, dezembro 01, 2023

Canção para o Rodrigo

terça-feira, novembro 28, 2023

Ouvir


O sermão de Domingo passado, chamado “Não é o que se pensa mas o que se presencia”, pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).