Pecado
Desde que as sugestões de Rousseau em que todos os seres humanos são pessoas de bem o que as estraga são sempre as circunstâncias externas (no fundo, os outros) que o conceito de pecado foi remetido para o
hades intelectuamente correcto das coisas que já não podem ser razoáveis. Pois. Gente como Pascal, Agostinho, Lutero, Calvino, Kierkegaard, C.S.Lewis, entre tantos possíveis, que nunca sentiram nenhuma sedução para afirmar que esta Terra é só de gente de bons fígados, não largaram nunca a convicção de que o homem está, por natureza, afastado de Deus. Que é mau.
Paradoxalmente à religião atribui-se uma interpretação mítica da realidade. Mas é a sociedade sem Deus que continua a acreditar no impossível. Que o homem é imanentemente desprovido de maldade (o próprio conceito de maldade é fruto da superstição). Mas sempre que alguém é acusado de um terrível acto aos olhos da sociedade, chegam os amigos a assegurar que tal é impossível. Duas contradições: os actos condenados são maus em si ou não? Se são, existe pecado. Segunda, os outros podem ser maus mas nunca os nossos amigos.
Não quero entrar no campo do Abominável César das Neves mas efectivamente é difícil suportar esta gente.
Desonestidade intelectual, dizia o outro.
As Escrituras apresentam o homem tal como ele é. Não há modelos de virtude. Há David, ungido do Senhor, que manda para a frente da batalha o marido da mulher por qual se tinha apaixonado. Urias morre. Desde esse dia sobra a pergunta: "
Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos?".