quinta-feira, dezembro 25, 2003

Até p'ró ano!
A Voz volta lá para inícios de 2004.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Já que é suposto ser um dia em que as obras da carne esmorecem...
Mal por mal, optem pelo bacalhau.

terça-feira, dezembro 23, 2003

Estações
Um Pai Natal de plástico bamboleia-se numa loja de chineses. Um busto do Camarada Mao permanece imóvel numa estante de um alfarrabista do Chiado. O Bob Dylan canta "wouldn't know the difference between a real blonde and a fake".
Da ordem
Na Rádio Ocidente uma técnica de maquilhagem que não pronuncia o som lh do seu ofício diz que o bâton vermelho dá um ar ordinário. Cada pecador deve evitar as suas tentações privadas.
Aproveito
A coisa dos blogues marca o meu ano de 2003. Já antes o escrevi. A Voz do Deserto é algo de muito importante para mim. De uma forma que dificulta a escolha das palavras para caracterizar esse valor.
Sinto-me agradecido por pessoas que antes eram minhas referências pessoais terem na actualidade a paciência de ler o que escrevo, ou, pelo menos, saber que existo. O Pedro Mexia, o Pedro Lomba, o João Pereira Coutinho, o Pacheco Pereira, o Francisco José Viegas, o João Miguel Tavares, o Zé Mário Silva.
Existe um hino nas igrejas baptistas que convida os crentes a "contar as bênçãos". Obrigado por aturarem este compasso desafinado.

segunda-feira, dezembro 22, 2003

Lar dividido
Diz a Deusa: "Num culto evangélico baptista, as mulheres descrentes são as primeiras a distrair os namorados com risinhos e gozo pelo que vão assistindo (com se não soubessem que tinham entrado numa igreja e não iam ouvir falar de futebol). Não me admira que Eva tenha dado a primeira trincadela".
Acrescento: pior que um marido ímpio só uma mulher ímpia.
Paulo, hoje o linque vai bem.
A única luta de classes em que creio
Na festa de Natal da Igreja Baptista de Moscavide duas crianças carregam brinquedos. A primeira, filha de emigrantes romenos, traz um sucedâneo de GI Joe em segunda ou terceira mão. Amarelo e gasto. A segunda, de uma daquelas famílias de classe média que quer aparentar fineza colocando nomes rebuscados aos filhos, agarra uma Batman estilizado e brilhante. Desconheço o futuro. Crescerão. Provavelmente um enfastiado com o excesso de acessórios, o outro eventualmente complexado pela ausência deles. Moralmente iguais. Com boas probabilidades de relembrar com saudade as ocasiões em que participar no programa natalício da pequena comunidade evangélica era suficiente para sentir alegria.
Conselho musical para o início do Inverno
Os Misfits têm a boa disposição dos Ramones. Em vez de Nova Iorque escolheram como cenário uma Noite das Bruxas. A voz de Danzig por vezes faz lembrar a de Jim Morrison. Carrega-se no botão open/close, insere-se o disco e coloca-se o volume bem alto.
Que se saiba
Interrompemos a leitura dos melhores contos de Natal seleccionados por Vasco Graça Moura para informar que Jesus veio ao mundo porque "os homens amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19).

sexta-feira, dezembro 19, 2003

Referências
O respeito que tenho ao Dr. Mário Soares é equivalente ao que tenho pelos Scorpions. O venerando semi-senador anda nisto há muito tempo e, à semelhança do grupo alemão, descobriu que nesta fase recente o sucesso se adquire com baladas para meninas.
Deusa
O Paulo diz que "no meu casamento estavas inconsolável". Sou protestante. Mas há frases que uma vez ditas se tornam instantaneamente dogmas.
É preciso pulso
Jean Guitton apelida Platão de "muito jovem neste mundo". Tenho para comigo que parte considerável do valor da literatura é o confronto. Felizes são as letras que nem sempre pacificam. Abençoados os homens que no momento certo as afiam.
As Escrituras afirmam em Hebreus 4:12 que a Palavra de Deus é "espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas".

quinta-feira, dezembro 18, 2003

Juízos literários II (a indiferença a estes por parte da criação animal)
Ela chamou Margarida à gata. Por causa da Duras. O animal só respondia à dona quando ouvia o chocalhar da caixa de biscoitos.
Juízos literários
Acabo de ler "O Processo" de Kafka. Foi uma leitura demorada e feita com esforço. É o que acontece quando a tradução é escolhida por critérios economicistas. A obra possui uma análise da relação entre o humano e a sociedade que me é cara. Lá para o fim existem estas frases reveladoras: "As mulheres exercem grandes influência. Se eu conseguisse mover algumas mulheres que conheço no sentido de se unirem, trabalhando juntas para mim, não poderia deixar de vencer. Especialmente perante este tibunal, que é composto quase completamente por homens doidos por saias".
Há coisas que não mudam. Depois do livro lido, coloquei-o ao lado de um da Isabel Allende.

quarta-feira, dezembro 17, 2003

A última figura de estilo sofrível sobre o aborto
Sinto uma ternura paternalista por abortistas elegantes. Ana Drago é um exemplo notável. São numerosos no nosso país os ventres ininterruptamente férteis que prolongam esta espécie.
Números da besta
A imprensa nacional comporta-se em relação ao aborto como o narrador do "The Number Of The Beast" dos Iron Maiden. Assistindo ao ritual pagão hesita em informar as autoridades. O resultado repete-se: mais uns quantos convertidos ao satanismo de bolso.
Qual Matrix, qual quê!
"Enquanto uns ateus insípidos me vinham explicar que nada havia além da matéria, eu ouvi-os com o manso horror do desprendimento, porque suspeitava precisamente de que nada havia além do espírito. (...) O ateu dizia-me solenemente que não acreditava que houvesse algum Deus, e, no entanto, há momento em que eu nem sequer acredito que haja ateus. É Chesterton quem o diz na sua abençoada autobiografia.
Obrigado
Agradeço ao Acuso!, ao Ideias Soltas, à Quinta Coluna, ao Ao Longo da Avenida, ao Mirita e ao Pente Fino a gentileza das palavras.

terça-feira, dezembro 16, 2003

ProTeste
Não usar os serviços da Chip7.
Sobre os critérios judiciais da populaça
Só para recordar que sempre que se fala em livrar alguém do cárcere, parte considerável da humanidade opta por Barrabás.

segunda-feira, dezembro 15, 2003

Duas paredes
Concordo com o Vincent quando coloca as coisas nestes termos: qualquer pessoa com a temperatura inadequada se pode tornar num déspota. É isto que afirma o Evangelho. O mundo dos meninos bem-comportados é um suspiro masturbatório para ateus desengonçados.
A queda de Saddam tem para mim dois efeitos: contentamento e auto-exame. O primeiro porque quem infringe deve ser castigado. O segundo porque no seu lugar poderia estar eu.
Para esse peditório já demos
A única mensagem natalícia deste blogue é esta: "E, naqueles dias, apareceu João, o Baptista, pregando no deserto da Judéia. E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus " (Mateus 3:1-2).
Universal
Ruben de Carvalho cita a autobiografia de Chesterton, o livro que nos últimos tempos tem sido o meu cânone. A literatura é uma coisa sublime. Não se nega a convertidos nem a impenitentes.
Isto sim, é um projecto de vida
"I was looking for that great jazz note that destroyed the walls of Jericho", dizem os Clash na cantiga "The Sound Of The Sinners", no éle-pê Sandinista.

sexta-feira, dezembro 12, 2003

O habitual desejo de bom fim-de-semana sem ser da praxe
Estou sem computador em casa. Posto aqui e ali. Acaba por me fazer bem esta desintoxicação forçada. Todas as pessoas de bem, volta e meia, deixam-se obcecar por alguma coisa. Não creio em gente permanentemente sóbria.
Isto tudo para dizer que tenho esperança no meu regresso próxima segunda-feira.
Sobre os santos
Estudamos brevemente na reunião de oração das quintas-feiras sobre quem são os santos na carta de Paulo à igreja de Éfeso. Os gentios, as mulheres, os maridos, os filhos, os pais, os servos, os senhores.
A santidade não assenta em predicados. Não existem hierarquias da virtude. O santo é o separado. O sorteado pela graça divina.
Igreja Baptista de Moscavide, nove da noite
Na fria reunião de oração de quinta-feira, ora a irmã A.: “Senhor, ajuda-nos a aquecer-nos uns aos outros”. Os crentes também sabem falar sem metáforas.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

Anunciações
Os mais susceptíveis à sobrenaturalidade gostam de pensar que os anjos de que a Bíblia fala são pessoas que possuem uma estirpe moral tão elevada que é como se fossem do outro mundo. Não é o meu caso. Creio tanto em seres angélicos como em demónios. A minha racionalidade não estrebucha por causa disso. Mas é certo que o Rui ao oferecer-me a autobiografia do Chesterton tornou-se um emissário do Senhor. Com quase tantas qualidades quanto Gabriel.
Reverência
Fernando Ribeiro quer fazer dos Moonspell uma espécie de mistura entre o Ozzy Osbourne e o Fernando Pessoa. Está-se mesmo a ver o resultado. Até eu, que passei a adolescência a ouvir excrescências como heavy metal cristão, sei que há que ter o mínimo de respeito pelo roque-enrole.
A gordura e os cigarros dos pecadores
Herman já bateu no fundo há algum tempo. Se é certo que me fascina um tradicional e à antiga percurso decadente, a verdade é que nem por aí o bom José tem sido eficiente. Na sua coluna semanal da TV Guia aconselha Fernando Mendes a experimentar uma banda gástrica. Conhecemos o facto de os caminhos a pique serem tantas vezes pontuados por conversões. Mas para este recém-apóstolo da vida saudável eu não consigo ter ouvidos.
Delfim Guimarães, Bairro Janeiro
Vejo na Sic a minha escola secundária em ruínas. É abrigo nocturno de drogados, dizem. Escolho não me sentar nas margens do rio a chorar. Se me abrigou a mim durante três anos que abrigue agora os viciados durante umas noites.

terça-feira, dezembro 09, 2003

Quero ouvir um amén!
Este fim-de-semana assisti a um culto carismático. O que me afasta teologicamente do evangelho da prosperidade é equivalente ao que me entusiasma na liturgia pentecostal. O pastor inflamado. A congregação inflamável. A cadência do discurso. A ausência do pudor. O abandono da racionalidade. E isto tudo sempre a subir. Sempre a subir.
Não entendo os que se embaraçam com estas coisas. Desde o Éden que o Senhor nos condenou à linguagem. E há uma sublime eloquência nos gemidos inexprimíveis (Romanos 8:26).
Ético, estético e religioso
Fora das questões do código religioso e do pluralismo cultural observadas pelo Abrupto, existe uma busca enjoativa pela espiritualidade perdida que leva a mulher ocidental a interessar-se pelo Islamismo. Não há religião prescritiva que refreie a demanda da fêmea pelo véu perfeito. É um resumo rápido e do it yourself dos três estados propostos por Kierkegaard num sorvete místico de finas camadas não-calóricas e adelgaçantes.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

Até terça
... E bom fim-de-semana prolongado!
Afirmação dogmática
O David Bengelsdorff é um dos poucos evangélicos que vale a pena ler nos nossos dias.
Mais do Menu
O Jónatas dá continuidade ao tema do aborto com o humor que o assunto merece.
O primeiro disque-jóquei da história acabadinho de chegar da Jamaica
Cunhado, tu deste-me a dica mas eu comprei o disco! U-Roy e o seu sound system para animar o pessoal no tempo frio!
Cid
Já não se fazem artistas como o José Cid. A rádio transmite um concerto seu no auditório da RDP. A minha geração é uma nódoa nestes domínios. O máximo que consegue é fazer bandas penteadas de versões. Mantenho-me conservador. Um artista deve ser excêntrico. O equilíbrio social depende disso. José Cid vai revelando em breves blocos de entrevista que foi convidado para compôr em exclusivo para Julio Iglésias. Recusou. Fala no tal álbum de rock progressivo que está na lista dos melhores do planeta. Diz que agora trabalha mais dentro do world progressivo. Acaba a sua apresentação com um refrão repleto de "glória, aleluia".
Não se pede sensatez a um cantor popular. Pede-se cantigas.
Cidádji
Ninguém mencionou que a Rádio Cidade perdeu o exclusivo linguístico dos brasileiros. Onde estão os nossos sociólogos? A partir do momento em que os nossos irmãos passaram a ser os que nos servem os almoços, os que nos limpam a casa e os que nos proporcionam as acrobacias sexuais de que a vida matrimonial desconfia o projecto radiofónico tornou-se insustentável.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Sobre as concepções morais da sexualidade
Escreve o Pedro na passada terça-feira: "caiu um dos grandes mitos dos «anos sessenta»: o da intrínseca bondade de todas as manifestações da sexualidade humana". Vale a pena ler o artigo.
Ora, as minhas concepções morais sobre a sexualidade são diversas. Serão inenarráveis para alguns mas são as minhas.
Ontem a minha amiga Filipa notava que ao falar no tema do aborto tinha sido muita bruto. Provavelmente.
Tomemos o meu exemplo. Carreguei a cruz de conservar-me fisicamente virgem até ao casamento. Ora, é verdade que poucas brincadeiras existem mais engraçadas do que zombar com um rapazinho casto (faço-o constantemente com os meus amigos ainda da outra margem do rio).
Atentemos ainda ao facto de conhecer muito bem uma pessoa que foi abusada sexualmente em criança.
Concluo. A sociedade que defendo não é a que ampute a possibilidade de que alguém condene eticamente a interrupção voluntária da gravidez, escarneça de votos de castidade ou faça anedotas sobre a pedofilia. Sinto, contudo, que os arautos dos descomplexados novos costumes possuem ainda um resquício da velha moralidade. O medo de um orgão que também é sexual. A língua.
Ainda não tinha dito?
O Senhor Carne é um blogue brilhante!
Sobre a fina sensibilidade
O Daniel Oliveira diz que que "uma mulher dificilmente pode ser comparada a uma caniche prenha". Depois atesto nos comentários que os leitores do Barnabé são precisos e pouco dados a aventuras metafóricas. A esquerda é cívica. Eu não. Não me escandaliza comparar mulheres com cadelas, presidentes eleitos com ditadores, terroristas com heróis independentistas, o meu bigode com o sorriso da Mona Lisa. Faço pela minha dose diária de iconoclastia.

quarta-feira, dezembro 03, 2003

Bios
Estou especialmente virado para metáforas biológicas hoje. A Gata Nuvem estava no meu colo. Vem a Gata Sombra e expulsa-a. Senti um ímpeto de moralizar o trânsito do meu regaço. Mas não vale a pena interferir junto dos imparáveis ciclos da natureza.
E a paz?
Quando discutimos estas coisas sentimo-nos nas trincheiras. Capazes de premir o gatilho contra o nosso colega da Faculdade, contra o vizinho de 3º esquerdo ou contra a nossa irmã. É proveitoso. Quando a humanidade se esquece destes sentimentos é muito mau sinal. Todo o pacifista é um amnésico.
Sobre o aborto IV
Peço desculpa. Mas puxaram por mim.
O que deve ser assumido é que para uns o inviolável é a vida. Para outros o inviolável é o sexo.
Sobre o aborto III
Simples. Se eu estaciono mal a viatura, ainda que fosse em socorro de um piquete de grevistas espoliados pelo vil patronato, devo pagar a multa. Se a lei diz que o aborto é ilegal e a senhora o pratica, deve ser sancionada pela lei.
Sobre o aborto II
"O aborto é, de imediato, uma questão moral para uma mulher grávida" diz André Belo. Não está nada mal para a esquerda que costumava defender que a família era uma forma histórica de opressão e apropriação do indivíduo por uma entidade externa. Eu que acredito no carácter inviolável da vida não considero que a capacidade de gerar filhos transfira para o agente reprodutor discernimento ético infalível.
Sobre o aborto
Os estimados leitores sabem que não sou de seguir agendas blogosféricas. Mas sobre o aborto há sempre um impulso para domesticar.
A minha visão de Estado é a de que permita a livre iniciativa pecaminosa. A coisa deve funcionar para que todos os vícios possam ser supridos desde que de mútuo acordo entre os viciosos.
A minha visão da vida é fundada num conceito de moral. Existe um bem e existe um mal. Assunto em que o Estado não se deve meter.
Ora, a questão do aborto. O tempo acabará por regular um vício que não é de mútuo acordo entre viciosos. É incorrecto. Não se trata de moral mas de pacto social (termo que a esquerda tanto aprecia).
A esquerda, tão habitualmente defensora das causas ecológicas, devia ser coerente. Tomemos um exemplo hipotético. Se existisse uma única e recém-viúva caniche portuguesa prenha, para que não se perdesse a espécie o Bloco de Esquerda proclamaria que o fruto do canídeo ventre era inviolável. A gestação deveria ser respeitada. Com um embrião dentro do útero a questão é a mesma. Permitir que a natureza cumpra o seu ciclo. A esquerda ficou sonoramente triste com a tragédia do Prestige porque existiu uma intromissão exterior (humana) que não permitiu que a vida marítima se mantivesse em estado de saúde regular.
Para barcos ou fetos,
meus caros deputados circunspectos
há que aplicar raciocínios rectos.

terça-feira, dezembro 02, 2003

Aquilo que de mais precioso temos
O meu agradecimento tardio ao Alexandre Andrade do BlogSobreKleist pelas palavras amáveis. Não podia estar mais de acordo com esta frase: "Não reivindico as "virtudes" da razão, mas apenas a legitimidade e interesse em me servir dela como bem precioso entre todos os restantes". Acrescento apenas que muitas vezes é ao chegar aos portões do espírito crítico e do raciocínio que começa o meu deserto. Nessas alturas sobram apenas os escorpiões para ouvir a voz.
Esperança
O Nuno decidiu pôr fim às Espigas ao Vento. Espero que o amor pelas searas regresse.
Máxima para uso quotidiano
Só acredito em heróis na presença do meu advogado.
Obrigado
O profissionalíssimo blogue americano In The Faith acrescentou-me à sua lista de linques. Thank you, meus caros.
Regresso
Até receio escrever que estou de volta. E ainda há gente que confia nas máquinas...

segunda-feira, dezembro 01, 2003

Pausa forçada
O computador está novamente enfermo. Regresso logo que possível.