Lamento publicitárioTenho bandas desde os 15 anos. A primeira era um exemplo da desgraça que pode ser a música com intuitos missionários (a música evangélica só converte evangélicos, cedo aprendi). Pelo caminho descobriram-se outras vias, desde a gratuitidade do hardcore (o único elemento que ainda se me funciona), passando pela sofisticação universitária das letras em inglês até ao fado de uma edição de autor. Nada no passado realmente me incomoda tirando a compra do Blitz num período ininterrupto de 24 meses.
Quando me casei tive mais um mês de férias que a minha mulher e gravei dois discos. Ficou nesse período selado que se a música não servia para o meu sucesso então integraria o meu mais credível fracasso. Não há ano que não grave pelo menos uma obra.
O nosso país possui já um nicho de música evangélica considerável. Nunca deu para me integrar na bendita divisão. As minhas cantigas não são o suficientemente sindicalizáveis para merecerem elogios do púlpito. Por outro lado também me falta a complacência necessária para distribuir exemplares pelos Galopins da crítica especializada escrita. O trabalho que seria ter de lhes explicar que música é apenas notas, sustenidos e bemóis. Desprezando tanto uns como outros resta-me o orgulho contrafeito mas ginasticado de me sentir acima da maralha e a sorte de dois ou três bêbados acabarem inadvertidamente nos concertos que vou dando.
Sei que recalcitro contra os aguilhões. Não tenho alternativa.