quarta-feira, novembro 30, 2005

Nota de leitura
Como já aqui mencionei comecei a ler o Dickens. David Copperfield. Não esperava que a história de um rapazinho mal-tratado pelo padrasto levasse tanta da minha emoção.
Good news
Há uma série de blogues que voltaram e eu já devia ter mencionado:
- o do Vasco (A Memória Inventada, que é da minha criação*)
- o da Sara (Vidro Duplo)
- a Educação Sentimental (que eu sei de quem é mas não digo o nome porque não é usado)

* Criação aqui quer dizer que nasceu quando eu nasci. O meu pai que é da Marinha Grande diz sempre assim.

terça-feira, novembro 29, 2005

Genealogia
Vendi-me depressa. O melhor de tudo é ser pai. Carecemos todos de genealogia. Jesus filho de José, filho de Eli, filho de Matate, filho de Levi, filho de Melqui e por aí fora. Nas raízes do Messias há reis e prostitutas. A procriação não sendo uma conquista técnica escusa-nos de justificações inúteis.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Chego Domingo de manhã à igreja
E apercebo-me o quão escandalosamente mal-vestido me encontro. Uso calças de fazenda e pullover que nem um sexagenário nas sombras da Gulbenkian aceitaria. Aprecio diversos elementos na indumentária dos velhos mas a combinação escolhida é desastrosa.
O meu esqueleto mesmo com a melhor roupa não redime a sua inconstância morfológica. Na melhor das hipóteses, ameniza-a. É a mais ousada possibilidade da minha aparência: amenizar.
Passar a vida
Com palavras próprias do leito de morte é, no mínimo, desagradável.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Projecto a curto prazo
Escrever no Pulo do Lobo.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Acabo a Carta aos Romanos de Karl Barth
Demorou mais de dois meses porque sou um leitor lento (os leitores lentos mereciam discriminação positiva no B.I., ao lado do estado civil). Quem me conhece sabe que leio livros como ouço discos e a coisa sobe-me à cabeça. Falo obsessivamente do escritor do momento, ponho-o em todo o assunto, uso a cara dele para fazer cartazes de panque. Assim foi. Descobri-me barthiano: o pecado mais pesado, o homem mais impotente, a religião pouco útil, a graça redentora. O verdadeiro protestante sabe que o valor da Reforma é sobretudo patético. A ética serve para quem não descobriu que a Salvação é negócio da misericórdia e não de mérito.
Meti-me agora no Dickens. Continuo pronto para rocar.

A little bit of me, ao vivo no Lótus Bar. Rolando e pregando. Sem óculos.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Mesmo pequeno
C.S. Lewis é sempre maior que todos os outros.

terça-feira, novembro 22, 2005

Mal teológico menor
Sacrificar o livre-arbítrio humano pelo livre-arbítrio divino.
Mal ideológico menor
Preferir ser a direita da esquerda do que a esquerda da direita.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Casam-se uns amigos
Na festa duas mesas destacavam-se. Uma de africanos e outra de enfermeiras. Em algum momento estes núcleos se intersectariam. Na dança, pois claro. Ver os omni-tentaculares pretos a sacar as curvilíneas auxiliares de saúde para a pista foi das mais significativas experiências estéticas que me foi concedida nos últimos tempos.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Assim em morte como na vida
Passado dia 11 fez 150 anos que o Sören morreu. Entretidos que estávamos com as castanhas e a água-pé não demos por nada.

P.S. Pedro, não se arranja aí um jantar para kierkegaardianos?
Chô de Domingo

O cartaz foi feito com a ajuda da tal criança de 18 meses.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Já posso
Morrer em paz.

quarta-feira, novembro 16, 2005

A quinta-feira não dá tempo para jantar
No fim da aula de guitarra tenho um quarto de hora para ir ao supermercado comprar alguma coisa. Às oito estou de volta à igreja onde se prepara a reunião de oração que começa 60 minutos depois. Sucumbi perante a ocasião de poupança: torta de chocolate da Dan Cake a 1 euro e 49 cêntimos. Dei-me mal. A mistela não caiu bem e o culto, que era eu a dirigir, passei-o com os intestinos às voltas. Os critérios economicistas comprometem seriamente a homilética.

terça-feira, novembro 15, 2005

Compreendendo o homem por detrás do blogue

Meu avô.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Estive na tal conferência sobre Chesterton
Que a Universidade Católica é estranha à classe média já sabia (não esqueçam os leitores que tive uma namorada que lá foi aluna - pobre criatura que tanto sofria quando me via ir ao seu encontro. Na altura era mais novo, mais magro, mais desengonçado, mais mal-vestido, enfim, mais constrangedor). Com alguma surpresa constato que o prelector fala em conversão. Menciona que o bom G.K. foi uma influência para a sua conversão ao catolicismo. Ainda os apostólicos-romanos cortavam madeira no Líbano já os protestantes faziam depender a fé da conversão. Os tempos mudam e não deixa de ser bonito sentir esta multidão mais sensível à religião. Faltava sentimento aos papistas.
Para estragar tão conciliadora disposição o sistema de pagamento do parque fez-me perder meia-hora na hora da saída com a viatura barrada na cancela. Obrigar um baptista a sair do carro e subir uma escadaria para pagar quase dois euros de estacionamento re-despertou o Lutero que há em mim. Não suportamos as indulgências. O ecumenismo morreu sexta à noite.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Conferência sobre Chesterton
Hoje às 19.30h na Universidade Católica (Anfiteatro A1). Roma bendita.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Strummer
Safe european home? Isso era antigamente, Joe, isso era antigamente.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Asas do fatalismo
Uma vizinha na puberdade passa por mim no hall do prédio. Sai vestida como uma rameira argentina. O fenómeno agudiza-se pelo facto de ser gorda. Sei que é a quantidade de epiderme à mostra que agora lhe vai garantindo alguma navegabilidade social. Um jogo de damas perverso em que permanecem no tabuleiro as peças que se deixam comer. Daqui a 10 anos estará demasiado obesa e roída para almejar projectos maiores do que alimentar os dois filhos nascidos antes dos 20.
Nada como apanhar o elevador para ouvir o farfalhar das asas do fatalismo logo pela manhã.

terça-feira, novembro 08, 2005

Lamento publicitário
Tenho bandas desde os 15 anos. A primeira era um exemplo da desgraça que pode ser a música com intuitos missionários (a música evangélica só converte evangélicos, cedo aprendi). Pelo caminho descobriram-se outras vias, desde a gratuitidade do hardcore (o único elemento que ainda se me funciona), passando pela sofisticação universitária das letras em inglês até ao fado de uma edição de autor. Nada no passado realmente me incomoda tirando a compra do Blitz num período ininterrupto de 24 meses.
Quando me casei tive mais um mês de férias que a minha mulher e gravei dois discos. Ficou nesse período selado que se a música não servia para o meu sucesso então integraria o meu mais credível fracasso. Não há ano que não grave pelo menos uma obra.
O nosso país possui já um nicho de música evangélica considerável. Nunca deu para me integrar na bendita divisão. As minhas cantigas não são o suficientemente sindicalizáveis para merecerem elogios do púlpito. Por outro lado também me falta a complacência necessária para distribuir exemplares pelos Galopins da crítica especializada escrita. O trabalho que seria ter de lhes explicar que música é apenas notas, sustenidos e bemóis. Desprezando tanto uns como outros resta-me o orgulho contrafeito mas ginasticado de me sentir acima da maralha e a sorte de dois ou três bêbados acabarem inadvertidamente nos concertos que vou dando.
Sei que recalcitro contra os aguilhões. Não tenho alternativa.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Deixai vir a mim os pequeninos
Nós protestantes não baptizamos criancinhas (talvez por excesso de civilização). Mas há alguma coisa de transcendente a passar-se no quarto da minha menina de 18 meses.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Nas letras apenas
Esperança: um dia ser convidado pela Bárbara Guimarães para lhe falar de um dos meus livros de eleição. Aproveitar para referir o verdadeiro Calvino (who da hell is Italo?). Recear que ela estique demasiado as pernas e me toque acidentalmente por debaixo da mesa. Cingir-me à literatura. Sem deslumbramentos excessivos.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Projecto de vida

quarta-feira, novembro 02, 2005

Conto abreviado
Era um cristão fraquinho. Fumava às escondidas e tudo. Tornou-se agora um cristão firme. Até conta experiências pessoais de confronto com demónios. Fanatizou-se, é certo. Mas sempre deixou de fumar.
Friday night
Os cartazes do concerto das Borboletas Borbulhas colados em Queluz levaram dois bêbados ao evento. Conhecemos a eloquência do álcool. A apresentação musical que foi abreviada perante a ameaça dos vizinhos chamarem a Polícia culminou no discurso semi-fluído mas emocionado feito por um dos inebriados. Agradecia a hospitalidade que o desconcertante show de panque-roque dentro dos muros da igreja lhe havia dispensado. As noites de sexta à noite nunca mais serão as mesmas para aquela alma.