O texto do Henrique
Este texto que o Henrique Raposo escreveu esta semana no Expresso online é muito pertinente. Leiam-no. No final, acrescento apenas uma qualificação que julgo importante.
A Câmara de Lisboa já deu dinheiro ao movimento protestante da Grande Lisboa? Já distribuiu milhões para a construção de templos cristãos das diferentes ramificações do protestantismo que, no seu conjunto, têm com certeza mais crentes do que a comunidade muçulmana? Que eu saiba não. Os evangélicos portugueses vivem a sua fé em garagens, caves ou armazéns em zonas recônditas e sem o apoio de ninguém. Mas agora a Câmara de Lisboa vai gastar três milhões de euros na construção de uma nova Mesquita na Mouraria. Não mereciam os protestantes um acolhimento da política “multicultural” do edil da capital? Vamos supor que os meus amigos baptistas chegavam junto da Câmara para pedir meio milhão destinado à requalificação das garagens onde realizam os seus cultos, invocando para o efeito que uma garagem não é um local adequado para a prática religiosa. Qual seria a reacção da Câmara de Lisboa? Não é difícil de imaginar.
Claro que este cenário lisboeta não é tão grave como aquele que se vive em diversos países europeus que estão a ser invadidos por mesquitas financiadas pela Arábia Saudita. Essas, sim, são quintas colunas exportadas pelos petro-dólares. Desde os anos 70 que a Arábia Saudita exporta a sua visão radical do Islão (wahhabismo). Outrora minoritária, esta visão tornou-se na versão mais audível do islão, muito por culpa destas mesquitas catapultadas pela Arábia para todo o mundo, Europa incluída. Em breve, chegaremos à conclusão de que estas mesquitas não podem entrar na Europa. As mesquitas europeias devem ser entidades orgânicas, devem nascer nas comunidades, com imãs locais, com dinheiro local, devem ser uma emanação do bairro/cidade, devem representar o islão europeu, o islão sueco, espanhol, francês ou alemão e não o islão de Riade.
A comunidade muçulmana de Lisboa é livre e vive num país livre e, por isso, ninguém pode objectar à construção de uma Mesquita, mas essa construção tem de partir da iniciativa e do dinheiro dos muçulmanos portugueses ou a viver em Portugal; essa Mesquita tem que ser um projecto orgânico que nasce de baixo para cima, e não um favor do estado “multiculturalista”. Os meus amigos protestantes constroem os seus templos em locais que não têm a dignidade imperial da grande Mesquita de Lisboa. Às vezes, passamos pela rua e nem sequer percebemos que está ali uma igreja naquela loja ou subcave. Porque é que existe esta diferença de tratamento? Porque é que os muçulmanos têm de ter um templo aparatoso do ponto de vista arquitectónico numa cidade que despreza protestantes e que tem vergonha das igrejas católicas desde o pombalismo?
O carácter de uma pessoa vê-se no modo como ela reage quando alguém lhe quer tirar alguma coisa. Mas o carácter de uma pessoa também se vê no modo como ela reage quando alguém lhe quer dar alguma coisa. Infelizmente creio que somos todos muito bons a reagir quando nos querem tirar, mas fraquinhos a reagir quando nos querem dar. E há coisas que nos querem dar que nós não devemos aceitar. Tirar não é uma coisa sempre má do mesmo modo como dar não é uma coisa sempre boa. A vida é mais complexa.
Não estou a sugerir que os evangélicos não devem aceitar qualquer coisa do Estado. Mas estou a sugerir que os evangélicos só devem aceitar do Estado aquilo que faz sentido. Os evangélicos devem procurar construir e edificar as suas próprias casas de oração sem esperarem pela generosidade do Estado. Quem manda nos evangélicos são os evangélicos e não o governo. Por isso, é preciso avaliar bem o que dádivas governamentais podem significar no futuro.
Todos começamos a conhecer histórias tristes de como certas instituições evangélicas eram garbosamente evangélicas até aceitarem do Estado o dinheiro primeiro, e depois a própria orientação de como a instituição deveria funcionar. Cuidado. A separação entre igreja e o Estado não é uma frase para enfeitar os nossos lábios quando gostamos de dar uma de pioneiros da liberdade. A separação entre igreja e o Estado também deve ser uma frase para quando nos querem tirar a liberdade à custa do que nos dão.
Neste sentido, o texto do Henrique é formidável porque nos ajuda a ser justos com todas as minorias religiosas e não apenas aquelas que tornam o nosso multiculturalismo popular. Mas o texto do Henrique não pode ser um pretexto para os evangélicos abdicarem do seu carácter em favor do que o Estado pode fazer por nós. Ajudamos o Estado mostrando-lhe que há vida além dele.
Este texto que o Henrique Raposo escreveu esta semana no Expresso online é muito pertinente. Leiam-no. No final, acrescento apenas uma qualificação que julgo importante.
A Câmara de Lisboa já deu dinheiro ao movimento protestante da Grande Lisboa? Já distribuiu milhões para a construção de templos cristãos das diferentes ramificações do protestantismo que, no seu conjunto, têm com certeza mais crentes do que a comunidade muçulmana? Que eu saiba não. Os evangélicos portugueses vivem a sua fé em garagens, caves ou armazéns em zonas recônditas e sem o apoio de ninguém. Mas agora a Câmara de Lisboa vai gastar três milhões de euros na construção de uma nova Mesquita na Mouraria. Não mereciam os protestantes um acolhimento da política “multicultural” do edil da capital? Vamos supor que os meus amigos baptistas chegavam junto da Câmara para pedir meio milhão destinado à requalificação das garagens onde realizam os seus cultos, invocando para o efeito que uma garagem não é um local adequado para a prática religiosa. Qual seria a reacção da Câmara de Lisboa? Não é difícil de imaginar.
Claro que este cenário lisboeta não é tão grave como aquele que se vive em diversos países europeus que estão a ser invadidos por mesquitas financiadas pela Arábia Saudita. Essas, sim, são quintas colunas exportadas pelos petro-dólares. Desde os anos 70 que a Arábia Saudita exporta a sua visão radical do Islão (wahhabismo). Outrora minoritária, esta visão tornou-se na versão mais audível do islão, muito por culpa destas mesquitas catapultadas pela Arábia para todo o mundo, Europa incluída. Em breve, chegaremos à conclusão de que estas mesquitas não podem entrar na Europa. As mesquitas europeias devem ser entidades orgânicas, devem nascer nas comunidades, com imãs locais, com dinheiro local, devem ser uma emanação do bairro/cidade, devem representar o islão europeu, o islão sueco, espanhol, francês ou alemão e não o islão de Riade.
A comunidade muçulmana de Lisboa é livre e vive num país livre e, por isso, ninguém pode objectar à construção de uma Mesquita, mas essa construção tem de partir da iniciativa e do dinheiro dos muçulmanos portugueses ou a viver em Portugal; essa Mesquita tem que ser um projecto orgânico que nasce de baixo para cima, e não um favor do estado “multiculturalista”. Os meus amigos protestantes constroem os seus templos em locais que não têm a dignidade imperial da grande Mesquita de Lisboa. Às vezes, passamos pela rua e nem sequer percebemos que está ali uma igreja naquela loja ou subcave. Porque é que existe esta diferença de tratamento? Porque é que os muçulmanos têm de ter um templo aparatoso do ponto de vista arquitectónico numa cidade que despreza protestantes e que tem vergonha das igrejas católicas desde o pombalismo?
O carácter de uma pessoa vê-se no modo como ela reage quando alguém lhe quer tirar alguma coisa. Mas o carácter de uma pessoa também se vê no modo como ela reage quando alguém lhe quer dar alguma coisa. Infelizmente creio que somos todos muito bons a reagir quando nos querem tirar, mas fraquinhos a reagir quando nos querem dar. E há coisas que nos querem dar que nós não devemos aceitar. Tirar não é uma coisa sempre má do mesmo modo como dar não é uma coisa sempre boa. A vida é mais complexa.
Não estou a sugerir que os evangélicos não devem aceitar qualquer coisa do Estado. Mas estou a sugerir que os evangélicos só devem aceitar do Estado aquilo que faz sentido. Os evangélicos devem procurar construir e edificar as suas próprias casas de oração sem esperarem pela generosidade do Estado. Quem manda nos evangélicos são os evangélicos e não o governo. Por isso, é preciso avaliar bem o que dádivas governamentais podem significar no futuro.
Todos começamos a conhecer histórias tristes de como certas instituições evangélicas eram garbosamente evangélicas até aceitarem do Estado o dinheiro primeiro, e depois a própria orientação de como a instituição deveria funcionar. Cuidado. A separação entre igreja e o Estado não é uma frase para enfeitar os nossos lábios quando gostamos de dar uma de pioneiros da liberdade. A separação entre igreja e o Estado também deve ser uma frase para quando nos querem tirar a liberdade à custa do que nos dão.
Neste sentido, o texto do Henrique é formidável porque nos ajuda a ser justos com todas as minorias religiosas e não apenas aquelas que tornam o nosso multiculturalismo popular. Mas o texto do Henrique não pode ser um pretexto para os evangélicos abdicarem do seu carácter em favor do que o Estado pode fazer por nós. Ajudamos o Estado mostrando-lhe que há vida além dele.