sexta-feira, fevereiro 28, 2020

Newsletter - Fevereiro/February 2020

[Se quer receber esta newsletter, diga-me através do e-mail tiagooliveiracavaco@gmail.com/ If you want to get my monthly newsletter, tell me so at tiagooliveiracavaco@gmail.com.]



Olá a todos (very-broken-english version down below)!

O meu plano é no final de cada mês enviar alguma coisa: pode ser um texto, uns pensamentos dispersos, um vídeo, um desenho, um cartaz para um evento futuro, ou outra coisa qualquer. No fundo, desejo manter a comunicação aberta com quem estiver interessado em ir sabendo da minha/nossa vida, tentando livrar-me da dinâmica das redes sociais, onde me sinto menos saudável. Não é curioso que os blogues, que são a pré-história da internet, permitam uma espécie de porto seguro para os mares mais revoltos da rede destes dias? Por isso, o que vou partilhando nesta newsletter, publico também no meu blogue (www.vozdodeserto.tumblr.com).

Neste fim de Fevereiro envio um texto que escrevi em Setembro passado, durante o nosso sabático. É interessante que, sem combinarmos, também a Ana Rute tenha escrito um texto sobre o mesmo assunto (vocês podem lê-lo aqui: https://poraquieporali.com/2019/12/30/licoes-da-garca-no-lake-cavalier/). Andamos sintonizados!

Dêem-me novidades vossas, se quiserem. A lista de pessoas que recebe esta mensagem é pequena e por isso ter algum eco pode ser interessante. Recebam o meu abraço!

***

Sempre que a minha atenção é caçada por um pássaro sei que ando ansioso demais. Aprendi esta lição ao estudar o Sermão do Monte, quando Jesus nos dá um mandamento que estupidamente esquecemos, que é aquele que nos manda fixar os olhos nas aves para não nos preocuparmos demais connosco.

Houve uma época especial na minha vida, que começou em Julho de 2019. Fui parar, junto com a Ana Rute e as nossas crianças, ao Mississippi, no sul dos Estados Unidos. Durante um mês e meio ficámos numa fantástica casa junto ao Lago Cavalier, em Madison, perto de Jackson. Apesar de o lugar ser maravilhoso, o meu estado de espírito não acompanhava a beleza que me cercava. Na primeira noite que lá passámos, fiquei nervoso dentro de uma casa tão grande e sem vizinhos perto. Pela primeira vez reconheci que talvez não devesse ter visto tantos slasher movies. Agora que estava num cenário de filme, apenas o género de terror ocupava a minha cabeça.

Graças a Deus chegou a primeira manhã, e depois muitas outras. Não é por acaso que a Bíblia valoriza a manhã como o regresso da graça divina. Todos aqueles que já passaram um mau pedaço durante as noites sabem o alívio que chega com o nascer do sol, tão forte que de repente podemos voltar a acreditar que tudo pode ficar bem outra vez. Assim foi comigo nesta época especial que começou em Julho de 2019 no Mississippi.

Quando acordava, abria as cortinas grossas de tecido castanho da sala e rapidamente a divisão se enchia de claridade. Saía com uma chávena de café para o relvado junto ao lago e sentava-me em silêncio, pronto para ler a Bíblia e outros livros que me deram vida nova (como o “Great Expectations” do Dickens). Das primeiras vezes que o fiz acabei por espantar a presença de quem passei a procurar como companhia. Aprendi a abrir a grande janela da sala sem afugentar a família de patos que ficava do lado esquerdo do lago e a garça que ficava do lado direito.

Para um português da cidade, ver uma garça não é uma coisa qualquer. Ela é grande, e, para quem gasta pouco tempo na abençoada tarefa de prestar atenção às aves, ela fica algures entre a cegonha e o flamingo. Neste sentido, é uma verdadeira aparição. Assim, as minhas manhãs começaram a ser caracterizadas por uma aparição. Apesar de sair de casa, sentia-me a entrar num templo. Sentava-me sossegado e passava os primeiros instantes à procura da garça, que das margens passou a optar pelo pequeno cais de madeira como seu poiso, para depois olhar para ela mais demoradamente, satisfeito por ela já não levantar voo com a minha chegada atabalhoada ao seu habitat. Claro que nos separavam muitos metros. Mas espiritualmente falando, ela estava bem junto a mim.

Na última manhã em que ficámos na casa do Lago Cavalier, não somente estava junto à água a minha garça, como uma segunda que começou a aparecer nas últimas semanas. Uma das particularidades da língua portuguesa é esta de tornar algumas espécies animais femininas - fiquei sem saber se a minha companhia era um ele ou uma ela mas prefiro ficar com a sugestão do meu idioma. Olhei para ela uma última vez e na minha cabeça agradeci a Deus. Aquela garça tinha sido a minha companhia naquela época especial da minha vida, naquele tempo em que a minha fraqueza foi aliviada pela sua aparição, magra, vigilante, fugidia mas fiel.

E, uma vez mais, Jesus ensinou-me colocando os meus olhos nas aves que ando demasiado obcecado comigo mesmo.

***

Hi everyone!

I plan to send something to you at the end of each month: it may be a text, some random thoughts, a video, a drawing, a poster for some future event, or any other thing. I want to keep communication going for everyone interested in me/us, trying at the same time to get rid of social media, a place where I don’t feel that healthy. Isn’t it interesting that blogs, a form of internet pre-history, may allow us a safe harbour from the roaring seas of the web nowadays? What I’m sharing here in this newsletters I’m also posting in my blog (www.vozdodeserto.tumblr.com).

At the end of this February I send to you a text I wrote last September, while in our sabbatical. It’s revealing that, without planning, also Ana Rute wrote her own text about the same subject (you can read it here: https://poraquieporali.com/2019/12/30/licoes-da-garca-no-lake-cavalier/). We’re tuning the same station!

Tell me about how you’re doing, if you will. This newsletter list is short so having some feedback might be fun. I send you my best!

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Every time a bird grabs my attention, I know that I am too anxious. I learned this while studying the Sermon on the Mount, when Jesus gives us a commandment that we stupidly forget - the one that calls us to fix our eyes on the birds so that we don’t have to worry too much about us.

There was a special season in my life, that began in July 2019. I ended up, with Ana Rute and our kids, in Mississippi, in the south of the US of A. During one month and a half we stayed at this great house by the Lake Cavalier, in Madison, Jackson. The place was beautiful but my state of mind didn’t follow. In the first night we were there, I became nervous inside such a big house without nearby neighbours (at least for a Portuguese standard they were not that nearby). For the first time in my life I had to acknowledge that spending so many years watching slasher flicks was not that good of an idea. Now that we were living in a place just like in the movies, horror was the only genre in my head.

Thank God the first morning came, and then many others. It’s not by chance that the Bible values mornings as the grace of God returning to us. All of us having rough nights know the relief coming with the sun rising, something so powerful that we can believe again that everything will be alright. That happened to me in this special season that began in July 2019, Mississippi, US of A.

When I woke up every morning, I would open this thick brown living room blinds and light would quickly fill all the space. I would go out to the lawn by the lake holding a cup of coffee and I would seat silently, ready to read my Bible and other books that gave me new life (like Dickens’ “Great Expectations”). The first couple of times I did that, I made something run away - something that I started to look for every morning as my most trustworthy companion. I learned to open that big living room window without scaring a family of ducks, standing at the left of the lake, and without scaring an heron that stayed at the right.

For a Portuguese city guy, to see an heron is not something usual. An heron is a considerably sized creature and, for someone missing the blessing of bird-watching, she is somewhere between a stork and a flamingo. In this sense, it is a true apparition. Therefore, my mornings could be then described as giving me a daily apparition. In spite of getting outside the house, I felt I was getting inside a temple. I would seat still and spend the first moments looking for the heron, that from the margins chose to stay now at the pier, and I would look at her peacefuly, happy because she no longer was running away from my clumsy arrival at her habitat. We were, of course, separated by some distance. But, spiritually speaking, she was really near me.

The last morning we stayed at Lake Cavalier, not only was my heron by the water but also a second one that started coming in the last couple of weeks. One of the great things about the Portuguese language is that some animal species are, for some reason, always named in the feminine - I never knew if my companion was a he or a she but I prefer to stick to my idiom. I looked at her for a last time and in my mind I thanked God. That heron had been my soulmate during that special season of my life, where my weakness was relieved by her presence - elegant, watchful, frightful but faithful.

And, once more, Jesus taught me by making me watch the birds that I obsess too much about myself.


quinta-feira, fevereiro 27, 2020

Ouvir

"A tua identidade não depende de lugares mas de Deus. Não são os lugares que te encontram ou que fazem de ti quem és. Não nego que eles contribuem para isso. Mas o que determina quem és é o facto de Deus peregrinar até ti. Por incrível que possa ser um Templo qualquer que, no caminho da tua vida, encontres, ele não te salvará. O que te salva é Deus que te encontra até eventualmente no lugar mais maldito que possas imaginar. Nós somos encontrados por Deus porque Deus é um Deus peregrino. Deus viaja até nós. Cristo vem até nós e isso muda radicalmente a nossa vida, que fica mais parecida com essa atitude de estar no ir. Daí que te queira perguntar: de que modo é que a tua vida, não sendo necessariamente nómada, responde a este ir de Deus?"

O sermão de Domingo passado, chamado "Parado não se encontra um Deus que está no ir", pode ser ouvido aqui (e no Spotify).

terça-feira, fevereiro 25, 2020

A quadra da quadra

Qualquer cristão decente
esfrega as mãos de contente
quando se prevê temporal
para os dias de Carnaval.

[Já uma tradição deste blogue.]

sexta-feira, fevereiro 21, 2020

Domingo

Se Deus quiser, pregarei um sermão chamado: “Parado não se encontra um Deus que está no ir”. Isso não significa que o cristianismo nos quer nómadas mas que, com o texto bíblico aberto na morte de Estêvão (Actos 6:8-7:60), podemos estar certos de que, quando Jesus nos encontra, nem os homens podem matar a presença de Deus em nós.




















Adam Elsheimer (1578-1610), “The Stoning of St. Stephen”

segunda-feira, fevereiro 17, 2020

Ouvir

"... Começo pela realidade de ser tentador para os portugueses discriminarem brasileiros. Não tenho agora como explicar tudo o que está em causa mas diria que, em trinta anos da história complicada de a comunidade evangélica gostar de sair da sua pequenez para deixar de depender de ajudas estrangeiras, sobretudo de brasileiros e de americanos, junto com um encontro exigente entre a expansividade natural dos brasileiros e a reserva dos portugueses, deixa os últimos facilmente tentados pelo cinismo e pela desconfiança. Tentar compreender tudo o que está em causa nestas questões culturais dá pano para mangas. Ao longo dos anos tenho escrito bastante sobre estes assuntos e, quem quiser, pode sempre conversar pessoalmente comigo ou ler os textos que fui publicando (para o final do ano deverá sair um livro novo que em grande parte se dedica a este tema). O meu ponto agora é outro e chamar os portugueses que têm caído neste pecado ao arrependimento. O que o Espírito Santo encheu com comunhão não temos o direito de ajudar Satanás a esvaziar com um sentimento de que uns são melhores do que outros.

Por outro lado, também a comunidade brasileira pode ser tentada. Sair de casa é sempre um sacrifício. Do mesmo modo como Jesus teve de se esvaziar na forma de quem serve (como nos ensina Filipenses 2:5-7), ninguém sairá com sucesso da sua cultura para outra sem imitar o exemplo do Senhor. Esvaziarmo-nos de nós e servirmos é apenas o que acontece a quem saiu de casa para outro lugar qualquer. O brasileiro que sofre por estar em Portugal deve contentar-se com o facto de o seu sofrimento ser apenas sinal de que ele saiu mesmo do Brasil. Nessa medida, se sofres, o problema não é do país onde estás. Se sofres, o problema apenas mostra que já não estás onde estavas. Não há sair de casa sem sofrimento. Se Jesus sofreu ao sair de casa, como é que não sofreríamos ao fazer parecido?

Quero dar dois exemplos, muito cá da Lapa, para afirmar que creio que sair de casa para servir, como Jesus saiu e serviu, implica uma vida em que, primeiramente, se ouve mais do que se fala. O primeiro exemplo, e melhor, é do Mark e da Família Bustrum. O Mark está na Igreja da Lapa desde 2013. Chegou como missionário. Ajudou a Igreja sem pedir nada em troca até que, finalmente, em 2017, foi eleito como presbítero. A vida do Mark e da Hannah é uma vida de serviço a sério porque eles ouvem, ouvem, e ouvem um pouco mais ainda (e, acreditem, que nós portugueses temos uma capacidade enorme de falar, falar, e falar mais um pouco ainda). O segundo exemplo é o meu próprio. Eu, campeão de opiniões acerca de tudo e acerca de nada, passei quase cinco meses numa Igreja dos Estados Unidos e só abri a boca uma vez, no contexto da Escola Dominical, para dizer qual um dos meus livros preferidos (o “Huckleberry Finn” do Mark Twain, claro!). Se realmente saíste de casa, então abraça a tarefa de servires o lugar para onde vieste, coisa que não conseguirás fazer se não passares mais tempo primeiro a ouvir do que a falar - não faças isto porque os portugueses te exigem, mas porque Jesus te inspira!"

O sermão de Domingo passado, chamado "A Lua-de-Mel Acabou", pode ser ouvido aqui (e no Spotify).

sábado, fevereiro 15, 2020

Amanhã














Se Deus quiser, prego amanhã em Actos 5:1-6:7. O sermão chama-se “A Lua-de-Mel Acabou” e nele quero mostrar que é bom quando tudo corre bem, mas é ainda melhor quando, por causa da nossa fé em Cristo, vivemos bem quando tudo não corre bem. A mentira e o sentimento de sermos melhores do que os outros são o início do fim do período de Lua-de-Mel da Igreja em Jerusalém. Jesus é a solução para essas tentações: em vez de mentir, Jesus diz e é a verdade; em vez de discriminar-te, Jesus recebe-te. Venham à Igreja da Lapa às 11.30h!

[A pintura é atribuída a Rafael.]

sexta-feira, fevereiro 14, 2020

20FC20

Os discos pós-paternidade já se tornaram um cliché no rock 'n' roll e a tendência é esperar deles alguma maturidade, detalhe ou uma subtileza. No caso de “Tiago Guillul quer ser o Leproso que Agradece”, de 2004, o projecto falhou. Subtileza era nenhuma e dez canções são despachadas em menos de um quarto de hora. O Tiago recém-pai queria embalar o primeiro bebé da família com os Ramones. Não é de estranhar, por isso, que o disco termine com o seu choro. Pelo caminho há, pelo menos, três clássicos: “A Isabel é Intelectual (porque perdeu a virgindade na Feira do Livro)”, “Ó Judas, Aperta o Laço" e "As Pessoas deviam ter Vergonha”. É esta a pérola perdida com 15 anos que a FlorCaveira agora desenterra (que pode ser ouvido no Spotify e restantes plataformas digitais).


quinta-feira, fevereiro 13, 2020

Ouvir

O sermão de Domingo passado, chamado "Não Há Outro Nome" e pregado pelo Filipe Sousa, pode ser ouvido aqui (e no Spotify).

terça-feira, fevereiro 04, 2020

Ouvir

O sermão de Domingo passado, chamado "Não Vos Inquieteis" e pregado pelo Pastor Gilson Santos, pode ser ouvido aqui (e no Spotify).